Folha de S. Paulo


Durante julgamento, advogado acusa desembargador de SC de pedir propina

Um advogado de Florianópolis acusou um desembargador do TJ (Tribunal de Justiça) de Santa Catarina de pedir R$ 700 mil de propina para julgar favoravelmente a causa que defendia.

A acusação foi feita na tarde desta quinta-feira (3), durante o julgamento da ação, na 1ª Câmara de Direito Civil do TJ. O desembargador era o relator do caso.

"O julgamento que está acontecendo aqui é comprado. Eu estou fazendo uma acusação", disse o advogado Felisberto Odilon Córdova contra o desembargador Eduardo Gallo.

"Isso aqui não é a Câmara dos Deputados. Isso aqui é um Tribunal de Justiça, e é preciso que a moralidade surja e venha a termo", acrescentou Córdova, irritado.

A fala dele foi filmada com celular e circulou pelas redes sociais.

Após as acusações, a sessão do TJ foi suspensa pelo desembargador Raulino Brunning, presidente da 1ª Câmara.

'SAFADO'

Nesta sexta-feira (4), o advogado disse que o pedido de propina foi feito "por um intermediário" do desembargador a seu sócio no escritório de advocacia.

O advogado afirmou ainda que o desembargador tinha proposta de R$ 500 mil para votar contra a ação que defendia e que pediu os R$ 700 mil como "contraproposta".

Córdova não disse de quem seria a suposta primeira proposta. Também não deu detalhes da ação que defendia. Segundo funcionários do TJ ouvidos pela reportagem, trata-se de uma causa de R$ 35 milhões.

O defensor declarou que "tem provas testemunhais" contra o desembargador, a quem chamou de "safado", "vagabundo" e "descarado". "A sua atuação [do desembargador] é mercadológica. É fácil apurar isso", disse o advogado, que tem 53 anos de atuação no mercado.

INVESTIGAÇÃO

O TJ informou, via assessoria, que o caso será "analisado".

O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em Santa Catarina, Paulo Brincas, disse nesta sexta-feira que já formou uma comissão para investigar a acusação.

"O Dr. Felisberto é um colega muito respeitado pela classe [dos advogados]. Tem muita credibilidade. A acusação feita por ele é severa e forte. É uma acusação de gravidade total. Precisa ser investigada", disse Brincas.

OUTRO LADO

O desembargador Eduardo Gallo nega as acusações feitas pelo advogado Felisberto Córdova.

Nesta sexta, Gallo não falou com a imprensa. Pela assessoria, informou que a acusação "se trata de fato mentiroso" e que "tomará todas as medidas judiciais cabíveis" contra Córdova.

O desembargador considera que sofreu, entre outros, ataque contra a honra e contra sua condição de servidor público.

Na quinta-feira, na sessão, ele disse que não admitia que um advogado lhe chamasse de "vagabundo". Ele pediu a prisão de Córdova, o que não ocorreu.

Também na quinta, o desembargador disse que tem 25 anos de magistratura e que "nunca passou por isso na vida".


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