Folha de S. Paulo


Em véspera de votação, Temer afaga ruralistas e baixo clero

Pedro Ladeira - 1º.ago.2017/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 01-08-2017, 12h00: O presidente Michel Temer, ao lado dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Blairo Maggi (Agricultura) e Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e do deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), líder da Frente Parlamentar da Agropecuária, durante reunião seguida de almoço com parlamentares da bancada ruralista, na sede da FPA, no Lago Sul. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
Michel Temer ao lado de aliados em reunião da Frente Parlamentar da Agropecuária

O governo tenta nesta quarta-feira (2) enterrar de vez a primeira denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra o presidente Michel Temer.

Ele é acusado do crime de corrupção passiva por supostamente ser o destinatário da mala com R$ 500 mil repassados pela JBS a Rodrigo Rocha Loures, seu ex-assessor. Esta é a primeira vez que um presidente é denunciado no exercício do cargo.

Temer passou a terça-feira (1º) em busca de apoio. Recebeu ao menos 35 deputados –incluindo o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf (PP-SP)–, almoçou com 58 ruralistas e foi a um jantar para o qual foram convidados 100 integrantes do baixo clero.

Ele acenou à bancada ruralista (210 votos) com uma medida provisória reduzindo a alíquota da contribuição do Funrural (Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural) e parcelando pagamentos atrasados com descontos.

Além disso, mandou de volta à Câmara 11 ministros e contou com a boa vontade de partidos como PR e PSD, que fizeram ao menos dois secretários estaduais retomarem seus assentos como deputados para tentar engrossar os votos a favor do governo.

No recesso parlamentar, Temer já havia liberado emendas, distribuído cargos a aliados e informou que traições seriam retribuídas com perda de espaço no governo.

NÚMEROS

Para evitar que Temer seja investigado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o Palácio do Planalto, em tese, não precisa fazer muito esforço, já que é a oposição quem precisa de 342 votos dos 513 deputados para dar seguimento à denúncia na sessão marcada para começar às 9h.

No entanto, o governo precisa da oposição para conseguir que 342 deputados registrem presença para que a votação comece.

Nas contas de Beto Mansur (PRB-SP), vice-líder do governo, Temer tem 280 votos a favor dele. Ele contabiliza 51 deputados indecisos e 57 traições. Segundo os cálculos do deputado, a oposição terá entre 125 e 130 votos.

Segundo enquete da Folha, há 105 deputados a favor do governo e 195 contra. No entanto, 209 não quiseram se posicionar. Quatro não votarão.

A tropa de choque de Temer na Câmara passou a terça em conversas ao telefone e pessoalmente para convencer, mesmo quem pretende votar contra, que marque presença em plenário.

Os aliados de Michel Temer também prepararam material com trechos da defesa e o que consideram pontos frágeis da denúncia. Os panfletos serão distribuídos aos deputados durante a sessão.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse acreditar que haverá quorum para a votação. Para o deputado, o processo deve ocorrer entre 14h e 19h.

Temer terceirizou para a oposição a responsabilidade de garantir a votação. "A Câmara decide, e eu aqui só espero. Quem tem que votar são aqueles que querem destruir aquilo que a CCJ decidiu", afirmou. Em julho, após uma série de trocas de integrantes que votariam contra o governo, a CCJ rejeitou parecer que era favorável à denúncia e aprovou um outro favorável ao presidente da República.

FUTURO

Apesar de não precisar de maioria para que Temer escape da denúncia, o governo precisa imprimir um placar robusto para sinalizar que tem base forte para aprovar as reformas como a da Previdência e a tributária.

A manutenção do apoio do mercado financeiro ao governo se sustenta justamente na perspectiva de aprovação dessas reformas.

Aliados calculam que um resultado "muito bom" seria em torno de 300 votos. Para aprovar a reforma da Previdência, são necessários ao menos 308 votos.

Rodrigo Maia avalia que há parlamentares contrários a Temer que serão favoráveis à pauta reformista, como alguns deputados do PSDB.

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Processo contra Temer na Câmara - Como será a votação

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ESTRATÉGIAS DE DEFESA
O que Temer tem feito para barrar a denúncia

Dinheiro
Em junho, mês em que a PGR apresentou a denúncia, o Planalto liberou R$ 529 milhões em emendas parlamentares, dispositivo que costuma ser utilizado para garantir a fidelidade da base aliada

Manobras
O presidente realizou 25 trocas na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) para garantir a aprovação de relatório contra a denúncia. Para votação desta quarta, 10 ministros reassumirão mandato parlamentar para votar

Maratona de encontros
Temer abriu as portas do gabinete presidencial para receber parlamentares indecisos tanto da oposição como da base. Nesta terça (1º), recebeu 35 aliados no Planalto, almoçou com ruralistas e jantou com o baixo clero

(DANIEL CARVALHO, ANGELA BOLDRINI, GUSTAVO URIBE, BRUNO BOGHOSSIAN, MARINA DIAS e MAELI PRADO)


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