Folha de S. Paulo


Dilma inocenta Gleisi em depoimento à Justiça como testemunha de defesa

Flávio Neves
Mobilização Polo Naval / Rio Grande-RS Ex presidente Lula e ex presidente Dilma Rousself participam de ato em defesa do Polo Naval em Rio Grande-RS, neste sábado (29). Trabalhadores protestam para pedir a retomada das obras da plataforma P-71. Foto: Flávio Neves *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
Gleisi Hoffmann (à esq.) com Dilma Rousseff e Lula em ato no Rio Grande do Sul, em abril

A ex-presidente Dilma Rousseff prestou depoimento à Justiça nesta sexta-feira (28) como testemunha de defesa na ação contra a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e o marido dela, o ex-ministro Paulo Bernardo.

Os dois são acusados pela Operação Lava Jato de receber R$ 1 milhão do esquema de corrupção da Petrobras para bancar a campanha eleitoral dela ao Senado, em 2010. O processo corre no STF (Supremo Tribunal Federal).

Dilma disse que a senadora, que era ministra-chefe da Casa Civil quando Paulo Roberto Costa foi demitido da diretoria de Abastecimento da estatal, não tentou pressionar pela manutenção dele no posto.

A permanência de Costa no cargo seria um dos motivos, segundo a denúncia, que levaram Bernardo a pedir o pagamento de propina.

A ex-presidente também afirmou nesta sexta que o ex-ministro não a procurou após a saída do ex-diretor para falar do assunto.

A petista foi ouvida na sede da Justiça Federal de Porto Alegre. Conduzida pelo juiz auxiliar Paulo Marcos de Farias, que trabalha com o ministro Edson Fachin, relator da ação, a audiência durou cerca de meia hora —começou às 13h10 e foi até as 13h46.

Vestindo blusa preta e blazer vermelho, ela chegou em um veículo com vidros escuros e usou uma entrada lateral do prédio para acessar a sala onde falaria.

A petista reiterou diversas vezes que Gleisi era ministra quando ela demitiu Costa e que "ela [Gleisi] não participava dessa decisão. Não era do âmbito dela".

Dilma afirmou nunca ter tratado do assunto com a senadora, atual presidente nacional do PT, a quem chamou de "uma pessoa bastante séria e extremamente rígida".

Além de Dilma, já foram ouvidos no processo os ex-presidentes da Petrobras José Sérgio Gabrielli, na Bahia, e Graça Foster, no Rio de Janeiro, e o ex-presidente Lula, em São Paulo. Ainda deve prestar depoimento o ex-ministro Gilberto Carvalho.

O casal Gleisi e Paulo Bernardo nega as acusações.

'NÃO OUSARIAM'

A ex-presidente afirmou à Justiça que dispensou Paulo Roberto Costa da estatal porque "não achava que ele era competente para o cargo".

Questionada na audiência se alguma pessoa, político ou liderança pediu para ela manter Costa, foi objetiva: "Não ousariam".

"Ninguém pediu. Ninguém achava que dava para chegar perto de mim e falar 'não tira'", prosseguiu.

Dilma também foi assertiva ao ouvir pergunta sobre "uma discussão muito ríspida" com Paulo Roberto Costa, relatada em depoimento do processo.

"Várias", disse a ex-presidente.

Sua convivência com ele era "um pouco distante", contou.

"Eu não gostava nem desgostava dele. Eu tinha uma relação profissional. As discussões que eu tinha era quando eu divergia. Não concordava muito com ele não. Mas não tinha nenhum indício maior de qualquer coisa irregular da parte dele."

Dilma disse que o ex-diretor não cumpria metas nem prazos, além de "não dar satisfações".

"Eu não tinha uma avaliação muito otimista e favorável do Paulo Roberto Costa, no que se refere a gestão."

Ele foi o primeiro delator da Lava Jato e ainda cumpre pena.

PROTESTO

No início do depoimento, Dilma Rousseff reagiu à proposta do Ministério Público de que ela fosse ouvida como informante, e não como testemunha.

O argumento foi o de que ela teria "envolvimento nos fatos", já que era presidente da República no período.

O magistrado que conduziu a sessão negou o pedido, justificando que não há na denúncia o nome da petista como participante de qualquer ato irregular.

Mesmo após a rejeição pelo juiz, Dilma protestou. Ela levantou o dedo indicador e pediu a palavra.

"Eu acho um absurdo eu ser relacionada com qualquer fato por ser presidente da República na época. Acho essa afirmação estarrecedora. Eu estou me defendendo depois dessa acusação implícita."

Em outro momento, ela foi questionada sobre o processo de escolha de diretores da Petrobras e indagada se havia indicações políticas.

Dilma disse não ter conhecimento se Costa foi nomeado a pedido do PP.

"No meu período nós fizemos nomeações eminentemente técnicas, buscando as melhores pessoas para cumprir as funções. E que eu me lembre a mesma coisa ocorreu no governo do presidente Lula. Ocorre que nem sempre as pessoas são aquilo que você pensa que elas são."


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