Folha de S. Paulo


Atos contra e em favor de Lula nas capitais têm baixa participação

A baixa mobilização de apoiadores e de opositores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas ruas de São Paulo contrastou com o impacto da notícia da condenação do petista pelo juiz Sergio Moro.

Lula foi condenado a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex de Guarujá (SP).

Na avenida Paulista, que teve o trecho em frente ao Masp fechado pela PM, algumas centenas de pessoas se reuniram em frente a um carro de som do PT e de movimentos de esquerda. No alto, discursou Guilherme Boulos, líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).

"Acabei de falar no telefone com o presidente Lula. É absolutamente escandaloso o que se consumou hoje", começou Boulos.

Segundo ele, o juiz Sergio Moro "se comportou como um promotor desde o princípio". "Foi uma farsa judicial. Mesma coisa que um juiz vestir a camisa de um dos times."

Boulos afirmou que "querem tirar o Lula das eleições no tapetão". "Hoje condenaram o Lula e ontem o Aécio Neves estava no Senado votando para tirar o direito dos trabalhadores", disse, ovacionado pelos presentes.

A alguns metros dali, em frente à Fiesp, palco dos protestos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, cerca de 50 pessoas comemoraram a condenação –elas foram convocadas pelo movimento Vem Pra Rua, que também chamara para um "barulhaço" às 19h, no posto 5 da praia de Copacabana.

Munidos com bandeiras do Brasil, bonecos "Pixuleko" e cartazes com fotos do juiz Sergio Moro e inscrições como "Lula na cadeia", "Fim do foro privilegiado" e "2018 vamos dedetizar o congresso", o grupo soltou fogos e incentivou quem passava de carro a buzinar.

Também no Rio, o deputado estadual Gilberto Palmares (PT) convocara apoiadores de Lula para um "microfone aberto" na Praça XV, a partir das 16h30; às 17h30 ninguém havia aparecido.

Em São Bernardo do Campo, berço político e local de residência de Lula, a presença de militantes também foi pouco significativa.

Entre oito e dez militantes ficaram conversando na calçada do prédio em que mora o ex-presidente, cantando pagode, chamando Lula de "papai" e revidando quando um motorista passava xingando pela janela do carro.

A ideia dos apoiadores era de passar a noite em vigília, evitando "ovadas e pichações" dos prédios.

FESTA E ESPUMANTE

Em Curitiba, a notícia da condenação de Lula foi comemorada com fogos, distribuição de coxinhas, bolo e espumante.

Duas baterias de fogos de quase mil tiros foram queimadas em frente à sede da Justiça Federal, onde despacha o juiz Moro.

Trezentas coxinhas foram distribuídas e manifestantes apagaram uma vela de nove anos de um bolo de aniversário –em alusão aos anos estipulados por Moro na decisão.

Cerca de 400 pessoas passaram pelo local ao longo do dia, segundo Denise Souza, coordenadora do MBL (Movimento Brasil Livre) em Curitiba. O ato, que começou às 18h, foi encerrado às 20h.

"Me sinto de alma lavada", comentou a vendedora Sirlene Santana, que trabalha perto da Justiça Federal e foi para o ato depois do expediente.

Durante a tarde, carros buzinavam ao passar na frente do fórum. Em um carro de som, manifestantes cantavam palavras de ordem, como "Hoje é dia de coxinha, a mortadela azedou". Também diziam que Aécio Neves e Rodrigo Rocha Loures, o "deputado da mala" também devem ser condenados.

"A gente não comemora a condenação da pessoa Lula, mas sim a de um poderoso", disse Narli Rezende, coordenadora do movimento Curitiba Contra a Corrupção. "Estamos esperando todos de braços abertos".

A segurança foi reforçada no prédio da Justiça Federal, com seguranças armados, mas não houve ocorrências. Movimentos que defendem Lula não marcaram atos para esta quarta (12) em Curitiba.

Manifestação em Curitiba

Veja buzinaço em Curitiba

Reprodução
Chamada para manifestação -- Lula
Folheto chamando para a manifestação contra a condenação de Lula já estava pronto

CORINTHIANS E FESTA

No Recife, um "ato de solidariedade" a Lula foi convocado para as 19h, na sede do sindicato dos Bancários de Pernambuco, no bairro de Boa Vista, com a presença do economista Luiz Gonzaga Belluzzo.

"Lula me ligou hoje [depois da sentença] e eu falei que nem precisava expressar a minha incondicional solidariedade a ele", disse o economista.

"O ex-presidente disse: 'se você for realmente solidário a mim, peça ao técnico do seu time, o Cuca, que deixe o meu time ganhar hoje'. Isso demonstra que Lula está resistindo e mais, ele tem esperança, sigamos seu exemplo." Corinthians e Palmeiras jogam na noite desta quarta pelo Brasileirão.

O ato foi organizado pela CUT-PE.

Em Porto Alegre, dois atos modestos tiveram lugar no início da noite: um em apoio a Lula, outro comemorando a condenação do ex-presidente.

A cidade tem importância simbólica, por ser uma das primeira capitais a eleger um petista à prefeitura, em 1989. E, como sede do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, é também o destino dos próximos passos do processo contra o ex-presidente.

Militantes e deputados estaduais do PT, como Miriam Marrons, Tarcísio Zimmerman e Stela Farias, se reuniram em frente à sede municipal do partido em um ato em solidariedade ao ex-presidente.

Um dos cartazes dizia: "Moro é um cara convictosó faltam as provas. #LulaInocente". Uma nota da ex-presidente Dilma Rousseff sobre a sentença foi lida para o publico de cerca de 50 pessoas. "A condenação de Lula é um escárnio, uma flagrante injustiça de um absurdo jurídico que envergonha o Brasil".

Em outra ponta da cidade, na avenida Goethe, onde fica o parque Moinhos de Vento, o clima era outro. O local se tornou ponto tradicional dos movimentos que pediam o impeachment de Dilma, em 2015. Nesta quarta, o movimento La Banda Loka Liberal convocou para o fim da tarde a "Festa Lula Condenado". O ato reuniu cerca de 40 pessoas, cantando versos como: "Vem pra rua apoiar o juiz Sergio Moro".

O deputado estadual Marcel Van Hattem (PP), que esteve do lado direito de Michel Temer (PMDB) em seu pronunciamento de posse, participou do protesto e posou para uma foto com o boneco inflável de Lula, apelidado de "Pixuleko".

Carolina Linhares/Folhapress
Membros do PT e da Frente Brasil Popular fazem reunião em Belo Horizonte
Membros do PT e da Frente Brasil Popular fazem reunião em Belo Horizonte

BUZINAÇO

Na capital de Minas Gerais, Estado governado pelo PT, as ações de apoio ao ex-presidente Lula foram tímidas.

Grupos de oposição fizeram barulho com rojões na praça da Liberdade, na região central, para comemorar a condenação do petista. Mas o ato, convocado pelo Vem Pra Rua e pelo Movimento Brasil Livre, reuniu menos de cem pessoas, vestidas de verde e amarelo e portando bandeiras.

O pequeno grupo também se fez notar com buzinaços e um "Pixuleko" inflável com as figuras de Lula e do governador Fernando Pimentel (PT).

"Historicamente, é muito triste ter o primeiro ex-presidente condenado por corrupção, mas estamos contentes. É uma alegria sinalizar que o país começa a ficar livre, é um recado a todos os corruptos", disse a médica Kátia Pegos, 52, líder do Vem Pra Rua em BH.

Pimentel, que divulgou vídeo no início da noite sobre a reabertura de escolas no interior, foi breve nas redes sociais.

"Continuo confiando na justiça. Um processo isento vai se encarregar de mostrar a verdade: a inocência do presidente Lula. "#LulaInocente", escreveu.

Na segunda-feira (10), quando esteve ao lado de Lula em evento em BH, Pimentel foi mais enfático ao defender a candidatura do petista em 2018. O governador, que busca reeleição, teria o ex-presidente como companheiro de palanque.

O PT de Minas e a Frente Brasil Popular convocaram uma reunião para a noite desta quarta, na Assembleia Legislativa, com o objetivo de definir mobilizações.

Um ato em defesa de Lula, da democracia e da Justiça imparcial foi convocado para quinta (13) às 16h, em frente à Justiça Federal, e depois às 18h, na praça Sete, no centro.

Carolina Linhares/Folhapress
Boneco Pixuleko de Lula e do governador Fernando Pimentel na praça da Liberdade
Boneco Pixuleko de Lula e do governador Fernando Pimentel na praça da Liberdade

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