Folha de S. Paulo


Cartel no Peru teve empresas brasileiras, diz delator

Janine Costa/REUTERS
Odebrecht paga R$ 30 milhões para encerrar ação por trabalho análogo a escravidão
Sede da Odebrecht, em São Paulo

O ex-funcionário do Ministério dos Transportes e Comunicação do Peru Edwin Luyo disse em acordo de delação premiada assinado com a Procuradoria peruana que empreiteiras, entre elas empresas do Brasil, organizaram um cartel para obter contratos de obras de infraestrutura peruanas.

Luyo enumerou 30 construtoras que participaram dos acordos ilegais, entre elas as brasileiras Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, OAS e Queiroz Galvão, que são investigadas na Operação Lava Jato.

As empresas eram representadas pelo advogado Rodolfo Prialé, lobista com forte atuação na área de infraestrutura, que fazia contato com Carlos Garcia, que foi assessor do Ministério do Transporte e Comunicação peruano entre 2011 e 2014.

Os acertos aconteciam em reuniões realizadas em função das licitações. Cada empresa tinha um representante nos encontros, de acordo com o relato feito ao Ministério Público local.

Após as conversas entre as empreiteiras, Rodolfo Prialé informava a Carlos Garcia qual empresa deveria sair ganhadora em cada licitação.

Garcia então operava para que o acordado entre os empreiteiros funcionasse dentro do Ministério do Transporte e Comunicação e nas comissões de licitação de cada projeto.

A empresa ganhadora do processo licitatório pagava propina a Prialé.

Luyo está preso desde janeiro deste ano sob a acusação de ter recebido propina da Odebrecht para ganhar um contrato de construção do metrô de Lima.

Foi a primeira detenção no país relacionado ao caso de corrupção da empreiteira brasileira.

A prisão do ex-funcionário público, que presidiu a comissão que fez a licitação do metrô em 2009, ocorreu como parte de um acordo preliminar da empresa para colaborar com a Justiça peruana.

O mercado do Peru é um dos principais da Odebrecht fora do Brasil.

Em entrevista em março do ano passado, quando ainda era candidato à Presidência, o atual mandatário peruano Pedro Pablo Kuczynski disse que havia em governos passados um acerto entre as grandes empreiteiras, que dividiam entre si as obras do governo, e que tal fato deveria ser investigado pelas autoridades do país.

O ex-presidente peruano Alejandro Toledo é considerado foragido da Justiça após uma ordem de prisão ter sido expedida em razão da suspeita de recebimento de propina no valor de US$ 20 milhões da Odebrecht.

OUTRO LADO

A Odebrecht afirmou, por meio de nota, que "está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um acordo de leniência com as autoridades do Brasil, Estados Unidos, Suíça, República Dominicana e Equador, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção". A Odebrecht Peru informou que "vem cooperando com as autoridades."

A Queiroz Galvão Mercados Internacionais, braço do grupo que cuida dos mercados estrangeiros, afirmou que "não se pronuncia sobre investigações e processos legais em andamento."

A Camargo Corrêa diz que desconhece a investigação.

A Andrade Gutierrez informou que não iria se pronunciar. A OAS não respondeu ao pedido de manifestação enviado pela reportagem.


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