Folha de S. Paulo


Parte de clã jurídico, relator de denúncia contra Temer é ligado a Maia

Pedro Ladeira/Folhapress
O deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) é escolhido relator de denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra o presidente Michel Temer
O deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ), eleito relator de denúncia contra Temer

No instante em que Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, anunciou Sergio Zveiter (PMDB-RJ) como relator da denúncia de Rodrigo Janot contra Michel Temer, aliados do Palácio do Planalto respiraram aliviados.

A sensação, porém, durou pouco. Um primeiro cálculo simplista indicou cenário amigável ao presidente da República. Zveiter é do PMDB, partido de Temer. Do PMDB do Rio, que tem cargos e prestígio no governo. Seria, portanto, um nome afeito ao Planalto. Só que não.

O deputado do Rio de Janeiro migrou para o PMDB no ano passado, quando o partido em que estava, o PSD, decidiu lançar candidato à Prefeitura do Rio. Ele queria apoiar o candidato do ex-prefeito Eduardo Paes (PMDB-RJ) e trocou de legenda.

Entenda a denúncia contra Temer

Na sigla de Temer, tem vínculos com algumas personalidades da política carioca, mas mesmo esses dizem que não há meio de influenciá-lo a pegar leve com o presidente da República.

TRADIÇÃO FAMILIAR

Zveiter é de uma família forjada no direito. O pai foi ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e o irmão mais velho, Luiz Zveiter, desembargador e presidente do Tribunal de Justiça do Rio. É Luiz, aliás, o único com quem, segundo amigos, Sergio Zveiter se aconselha.

O deputado preza pelo nome da família e pelo voto de opinião pública. Advogado, comanda um escritório de advocacia e, de acordo com aliados, também não arriscaria arranhar a imagem da firma.

O deputado de Niterói foi o mais jovem advogado a assumir a presidência da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Rio aos 33 anos. Foi, depois, reeleito.

Hoje, aos 61 anos, ainda advoga –deputados só têm impedimento de atuar contra o poder público.

Zveiter tem o Grupo Globo como um dos maiores clientes de sua banca. Atua há 40 anos para empresas dos Marinho. Seu pai era amigo do fundador da maior emissora do país, hoje atacada por aliados e pelo próprio presidente, que a vê como personagem ativa de seu calvário.

A ligação do deputado com o grupo de comunicação –ele aparece nominalmente como representante da Globo em várias ações no Supremo, a mais recente de agosto de 2016– dominou as rodas de conversas governistas do Congresso nos últimos dias.

Logo depois que sua indicação a relator foi oficializada, um peemedebista do Sul dirigiu-se, aliviado, a um correligionário do Rio, dizendo que estava "tudo certo" porque Zveiter era "gente nossa", numa referência à filiação partidária.

Ouviu como resposta que "ele é advogado da Globo". Zveiter é visto como um parlamentar independente. Responde às especulações de maneira seca. "Minha nomeação, segundo o próprio presidente da CCJ, obedeceu aos critérios de conhecimento jurídico, assiduidade na comissão e independência."

Aos colegas que ousaram questioná-lo em privado sobre o assunto, foi enfático ao dizer que seus clientes não "têm qualquer influência sobre a atuação parlamentar".

A aposta é que Zveiter fará um relatório técnico. Para entregar a peça até segunda (10), como prometeu, conta com a ajuda de um constitucionalista. Ninguém espera um texto favorável a Temer.

Políticos que convivem com Zveiter dizem não ter dúvida que fará um parecer técnico pela aceitação da denúncia.

AMIGO DE MAIA

Cientes do quadro, aliados de Temer dizem que o Planalto sairá no lucro se Zveiter fizer um texto se atendo aos aspectos técnicos e jurídicos da denúncia, sem explorar a face política da crise.

Amigo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), principal beneficiário de uma eventual queda de Temer, Zveiter brindou a nomeação para a relatoria do caso em um jantar na casa do democrata. Aliados reconhecem que foi um erro, já que ele prega independência.

Desde que houve uma definição do rumo da denúncia na CCJ, a residência do presidente da Câmara se tornou um dos locais mais badalados de Brasília. Há romaria constante de deputados – da base aliada e oposição. Maia nega estar em campanha para assumir o lugar de Temer.

Seus aliados, porém, têm um discurso pronto para explicar o motivo pelo qual ele desponta como favorito.

Dizem que Maia manteria o compromisso firmado por Temer com a aprovação de reformas, é menos encrencado com a Lava Jato, transita no PC do B, no PT e na Rede, e assumiria com uma "trégua da mídia", em nome de um pacto de "salvação nacional'.

Zveiter terá papel decisivo, indicam líderes do Congresso, na definição de voto dos deputados indecisos. Tem, portanto, parte dos destinos de Michel Temer e de Rodrigo Maia na palma da mão.


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