Folha de S. Paulo


Empresas de ônibus usaram nome de banco para fugir de fiscalização

José Lucena/Futura Press/Folhapress
Lélis Teixeira, presidente da Fetranspor, chega à sede da PF no Rio de Janeiro, após ser preso durante a Operação Ponto Final
Lélis Teixeira, presidente da Fetranspor, chega à sede da PF no Rio de Janeiro, após ser preso durante

Dinheiro vivo das empresas de ônibus do Rio guardados numa transportadora de valores foi ocultado em nome do Banco Guanabara, da família do empresário Jacob Barata Filho, preso no domingo (2), de acordo com o Ministério Público Federal.

Relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) aponta que R$ 150 milhões circulou na Prosegur entre janeiro de 2013 e maio de 2014 em nome da instituição financeira, a fim de ocultar os reais donos do dinheiro.

O uso do nome do Banco Guanabara evitou que a Prosegur comunicasse ao Coaf a guarda dos valores de companhias vinculadas à Fetranspor (federação de empresas de ônibus). O órgão do Ministério da Fazenda exige que as transportadoras de valores o informem sobre a guarda de bens acima de R$ 100 mil, à exceção de instituições financeiras.

A exigência tem como objetivo identificar movimentações financeiras potencialmente suspeitas. Usando o nome do banco, as empresas de ônibus fugiram da fiscalização.

As investigações da Operação Ponto Final, que prendeu a cúpula do empresariado do setor, identificaram que a propina paga pelas companhias era administrada pelo doleiro Álvaro Novis, que usava as transportadoras Prosegur e Trans Expert para guardar e enviar o dinheiro vivo a políticos. Estima-se que entre 2010 e 2016 foram cerca de R$ 500 milhões em vantagens indevidas para agentes públicos.

A suposta fraude foi identificada após Márcio Miranda, funcionário da Prosegur, desaparecer com R$ 40 milhões da transportadora, em maio de 2014. O sumiço está sob investigação da Polícia Federal.

"Ao iniciar um procedimento interno de auditoria, que ainda segue em curso, identificou-se uma burla nos sistemas de controle de comunicação de operações suspeitas, praticada pelo funcionário desaparecido, na medida em que vários clientes foram unificados em uma única custódia, registrada em nome do Banco Guanabara, como forma de acobertar a transação de movimentação de valores e entrega de numerário entre as mencionadas empresas, sem que fosse possível a identificação de tais movimentos, como sendo realizados por pessoas jurídicas distintas", aponta relatório do Coaf.

De acordo com o documento, a unificação das custódias das empresas de ônibus foi solicitada pela Guanabara Diesel, concessionária da marca Mercedes-Benz também da família Barata.

O banco e a concessionária fazem parte do Grupo Guanabara, iniciado por Jacob Barata na década de 1950 e que se expandiu ao longo dos anos. Todas as empresas do conglomerado giram em torno do setor de transporte público por ônibus.

O Banco Guanabara foi fundado em 1987, tendo como objetivo ser um braço financeiro das empresas do setor, oferecendo financiamento para renovação de frota, entre outros serviços. O balanço de 2015 da empresa indicava que a instituição tinha R$ 908,5 milhões em ativos, uma fração perto dos grandes bancos, como o Bradesco (R$ 1,08 trilhão em 2015).

OUTRO LADO

A instituição financeira afirmou, em nota, que "jamais autorizou a transportadora a aceitar em seu nome a custodia de valores pertencentes a terceiros".

"O Banco Guanabara mantém contrato com a Prosegur para transporte e guarda de dinheiro em espécie, em valores muito reduzidos, valores estes que são declarados quando da entrega à transportadora, e destinados exclusivamente para depósito em conta reserva no Banco do Brasil", diz a instituição, em nota.

A Prosegur afirmou, em nota, "que prestou esclarecimentos e segue à disposição das autoridades competentes". A empresa declarou ainda que "segue rigorosamente às leis que regulamentam a atividade no país e toda a sua operação é fiscalizada pela Polícia Federal regularmente".

A Prosegur afirmou ainda que Miranda não faz mais parte do quadro da empresa


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