Folha de S. Paulo


Para perito de Temer, trecho crítico de áudio tem problemas

Eduardo Anizelli/Folhapress
O perito Ricardo Molina durante coletiva de imprensa realizada no Brasil 21, em Brasília (DF)
O perito Ricardo Molina durante coletiva de imprensa realizada no Brasil 21, em Brasília (DF)

O perito contratado pelo presidente Michel Temer, Ricardo Molina, afirmou que houve "alta incidência" de problemas na gravação feita pelo empresário Joesley Batista em trechos de diálogos "críticos".

Para ele, interrupções e chiados no áudio atrapalham o entendimento da conversa.

Molina insinuou em entrevista para jornalistas que isso poderia levar a pensar que tenha sido proposital.

A perícia da Polícia Federal afastou a ocorrência de qualquer forma de adulteração da gravação e atestou a "legitimidade plena da prova para a instrução criminal" – o que é questionado por Temer.

Há pelo menos sete pontos na conversa gravada no Palácio do Jaburu que deixam dúvidas sobre o conteúdo.

Em trechos com ruídos, os peritos da PF não transcreveram o que foi falado.

"É uma coisa curiosa da gravação. Há uma alta incidência de interrupções quando o diálogo é, vamos dizer, crítico", afirmou Molina. "Como é possível construir coerência lógica desse jeito?".

Em um dos diálogos "críticos", Joesley fala com Temer sobre algum assunto relacionado ao BNDES.

O empresário fala sobre alguma operação que teve empenho e esforço, que "não deu de um jeito mas deu do outro, tá e pronto, deu certo".

Temer chega a dizer que foi "em janeiro pressionar", mas há várias interrupções e ruídos que impossibilitam entender frases ditas.

Segundo a PF, as descontinuidades são consequência do tipo de aparelho usado por Joesley, mas que são naturais.

Os ruídos, por outro lado, muitas vezes são explicados pelos peritos por "batida no dispositivo de captação".

Molina, porém, confronta a conclusão da polícia.

"Eu posso incluir ruídos aqui nessa gravação quantos eu quiser. Seria ingenuidade achar que não pode", disse o perito em entrevista.

Ao todo, as interrupções naturais do gravador consumiram seis minutos.

Segundo o perito, isso representa que ao menos 23% do áudio se perdeu, o que, para ele, torna o material "imprestável" como prova.

DEFESA

Os advogados de Temer protocolaram no Supremo nesta segunda um pedido para ter acesso aos dois gravadores usados por Joesley.

A defesa solicitou também resposta a 12 perguntas feitas a peritos da PF, que não foram respondidas no laudo final.


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