Folha de S. Paulo


ANÁLISE

'Moda mito' liga deputado a Jack Daniel's e Don Corleone

O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) está valendo no mercado parcos R$ 20, tanto quanto o ex-deputado e fundador do extinto Prona, Enéas Carneiro (1938-2007). Além de compartilharem ideais como a legalização da pena de morte e a criminalização do aborto, ambos dividem página em um shopping virtual que vende camisetas com escritos "Enéas Tinha Razão" e "Bolsonaro 2018".

A última passarela para essas peças que reverenciam "Bolsomito", apelido dado por eleitores e tietes ao possível presidenciável, foi o encontro da União Nordestina dos Produtores de Cana, que aconteceu na quinta-feira (8), em Natal (RN).

Malhas baratas e poliéster, um tipo de material sensível ao fogo, feito de petróleo e nocivo à natureza, serviram de base para as referências visuais que os participantes da convenção mais gostaram de atrelar à imagem do ídolo improvável.

Uma das mais usadas, e também sucesso no site de compras, com 117 exemplares vendidos, mostra o deputado vestido com armadura verde-amarela justinha, com escudo e estrela no peito. É uma clara referência ao Capitão América.

Criação dos quadrinhos da americana Marvel, o herói lutou durante a Segunda Guerra e era visto como bom-moço, até que no ano passado foi revelado que, na verdade, ele sempre foi um vilão nazista disfarçado e a serviço de uma organização fundada para conquistar o mundo.

No faroeste ideológico que virou a reunião, no qual também couberam frases do tipo "um soldado que vai a (sic) guerra e tem medo de morrer é um covarde" e "é melhor Jair se acostumando", uma camiseta mostrava o rosto do deputado impresso no meio de uma moldura idêntica à do rótulo do uísque americano Jack Daniel's.

A bebida tem identidade visual vinculada aos tempos do "bang-bang" no Velho Oeste dos Estados Unidos, e a imagem do congressista lembrava a de criminosos que estampavam cartazes com a palavra "procurado" impressa em letras garrafais.

O caubói que usou a peça no encontro tratou de descarregar a artilharia e ostentou um "selfie oppressive" (em tradução livre, algo como "o próprio opressor") impresso no look. No alto da mesma camiseta também se lia "coleção opressiva Bolsonaro".

Um ouvinte mais moderno optou por trajar um modelo tecnológico de dry-fit –tecido usado por esportistas que suga o suor, esfria o corpo e costuma impregnar mau cheiro– com o rosto do ídolo ampliado e tingido em tons de cinza.

Mas nem os pseudo-heróis nem os criminosos que desafiam a justiça são páreos para o look predileto dos fãs do "mito": um desenho do deputado em preto e branco, ou em versão minimalista ou extravagante, com uma auréola em volta da cabeça do retratado.

No plano fictício, o modelo é imagem e semelhança do mafioso italiano Don Corleone impresso no pôster do filme "O Poderoso Chefão" (1972), e no real, remete à célebre imagem do guerrilheiro argentino Che Guevara (1928-1967), outro emblema de força e sangue colado em pedaços de pano, aparentemente, inofensivos.


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