Folha de S. Paulo


'Se pinguela quebrar, vamos a nado', diz FHC

Eduardo Anizelli - 25.abr.2016/Folhapress
Fernando Henrique Cardoso na sede de seu instituto, em SP
Fernando Henrique Cardoso na sede de seu instituto, em SP

No fim do ano passado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comparou o governo do presidente Michel Temer a uma "pinguela" –uma ponte estreita e instável. Naquela época, parecia disposto a atravessá-la. Na tarde desta quarta (14), no entanto, o tucano mudou o discurso.

"Preferiria atravessar a pinguela, mas, se ela continuar quebrando, será melhor atravessar o rio a nado", disse, em nota à Agência Lupa.

Na última segunda-feira (12), a Executiva Nacional do PSDB se reuniu e decidiu permanecer no governo federal.

Ao fim do encontro, o partido disse que está à espera de "um fato novo" que possa justificar seu desembarque de forma plena.

O ex-presidente, que não participou do encontro da Executiva, revelou posicionamento diferente:

"Se tudo continuar como está, com a desconstrução contínua da autoridade [de Temer], pior ainda se houver tentativas de embaraçar as investigações em curso, não vejo mais como o PSDB possa continuar no governo".

No texto, o ex-presidente também fala da necessidade de "devolver a legitimação da ordem à soberania popular" –sem, no entanto, fixar datas ou esclarecer se faz uma defesa aberta da convocação de eleições diretas.

Também diz que "a maior responsabilidade" é do presidente Michel Temer e que é ele quem tem que decidir "se ainda tem forças para resistir e atuar em prol do país".

O ex-presidente classifica a atual crise como grave, uma "quase anomia" (estado de ausência de regras e normas).

Lamenta que falte ao cenário nacional o que "os politicólogos chamam de 'legitimidade'".

O ex-presidente propõe uma saída para a crise política em que o país está imerso: "ou se pensa nos passos seguintes em termos nacionais e não partidários nem personalistas ou iremos às cegas para o desconhecido".

CONTRADIÇÕES

Na nota, o ex-presidente ainda reconhece que vem adotando posições públicas que muitas vezes parecem contraditórias.

Na tentativa de se explicar, diz que "no calor dos embates diários e de declarações dadas às pressas", talvez não tenha sido claro "nem sem hesitações".

Nas palavras do tucano: "a conjuntura política do Brasil tem sofrido abalos fortes e minha percepção também".


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