Folha de S. Paulo


ANÁLISE

No vaivém do PSDB, Alckmin conseguiu ser pró e contra Temer

Pedro Ladeira/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 12-06-2017, 17h00: Reunião da executiva da PSDB para definir sobre o desembarque ou não do governo Temer. O partido está rachado e não deve ter nenhuma definição sobre o assunto na reunião de hoje. Na mesa principal o presidente em exercício do partido senador Tasso Jereissati, os governadores de SP, Geraldo Alckmin, do PA Simão Jatene, do PR Beto Richa, de GO Marconi Perillo, o prefeito de Manaus Arthur Virgílio, de São Paulo João Dória e os ministros Bruno Araújo (Cidades), Luislinda Valois (Direitos Humanos), Aloysio Nunes Ferreira (MRE) e Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), alem do senador e ex ministro José Serra. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
Reunião da Executiva Nacional do PSDB, que decidiu pela permanência por ora no governo de Michel Temer

O governador Geraldo Alckmin (SP) foi o tucano que melhor se saiu do vaivém sobre a manutenção do apoio do partido ao governo Michel Temer, enfim decidida em caráter provisório em reunião da Executiva Nacional do PSDB na segunda (12).

Alckmin logrou defender a permanência no governo e, ao mesmo tempo, se dizer descomprometido a apoiar qualquer coisa vinda do Planalto que não sejam reformas estruturais que "gerem emprego". Embutiu defesa da estabilidade institucional e discurso de candidato a presidente num só pacote.

Se vai colar, é outra história. O cheiro de sangue que os deputados jovens do PSDB sentiram não é desprovido de razão: vai ser bem difícil explicar para o eleitorado a associação com o governo Temer, caso ele dure até 2018 e com os níveis atuais de popularidade. Defender reformas já carimbadas como prejudiciais ao trabalhador, e não se trata aqui de mérito mas de percepção aferida em pesquisas, terá alto custo igualmente.

Ainda assim, Alckmin fortaleceu sua posição no partido. Se é verdade que também protagonizou vaivém, ora lançando candidatos a uma eleição indireta que ainda não veio, ora defendendo responsabilidade, ao fim disse que seu compromisso é com o país. Para o Planalto, a permanência dos tucanos é vital para sinalizar governabilidade, mais pelo peso político e a certeza de que aliados como o PSD deixariam a base se o PSDB o fizesse.

Muito se especula sobre a reunião ter buscado prioritariamente salvar a pele do encrencado presidente afastado do partido, Aécio Neves (MG), no Conselho de Ética do Senado. Não faz muito sentido. O problema de Aécio é com a Justiça; leniência nesses fóruns corporativos do Congresso é mais regra do que exceção, até porque quase todo mundo vislumbra seu pescoço na corda também. A rigor, Alckmin agora só precisa esperar o destino do mineiro se desenhar para tomar conta de vez da sigla, com uma nova Executiva mais alinhada a seu grupo.

Apoio da máquina do PMDB em 2018, e seu generoso tempo de TV, é outra coisa. É nisso que Alckmin apostou, assim como de resto toda a cúpula partidária. Mas hoje é ele, o governador, que busca viabilizar-se como candidato. Aécio é carta fora do baralho, assim como o senador José Serra (SP), que também foi alvejado pela Lava Jato.

O senador Tasso Jereissati (CE) segue sendo uma opção do partido para compor chapa numa eventual eleição indireta, que hoje só ocorreria se Temer renunciasse ou fosse impedido —ambas hipóteses que dependem do desenrolar das investigações da Operação Lava Jato sobre o presidente e, em igual medida, de algum tipo de reação nas ruas ora silenciosas.

Não que Alckmin tenha uma avenida livre, ao contrário. Está citado na Lava Jato e há rumores insistentes de que obras do governo paulista estarão no "recall" da delação de empreiteiras como a Andrade Gutierrez. Além disso, ele patina em pesquisas com índices magros de intenção de voto.

O que desloca o foco para o personagem que estava um tanto deslocado, à margem da mesa em que Alckmin pontificava ao centro, na segunda: o prefeito João Doria, de São Paulo. Tucano novato, Doria não carrega manchas da Lava Jato e demonstra potencial eleitoral forte em pesquisas, hoje melhor do que o do padrinho político.

Seja como for, Alckmin e Doria representam um grupo político, ainda que ambos troquem estocadas aqui e ali. Para horror de tucanos de alta plumagem de São Paulo, que costumam desprezar a esfera do governador como provinciana e reacionária, talvez seja o que o partido terá em 2018.


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