Folha de S. Paulo


'Conta' de aliado de Cunha com Joesley era de R$ 173 milhões

Lula Marques / Folha imagem
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das ONGs, no Senado Federal, ouve Lúcio Bolonha Funaro (foto), corretor de câmbio que intermediou operações para dirigentes da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop). Local: Sala 2 da Ala Nilo Coelho. Politica.
Lúcio Bolonha Funaro, em depoimento a CPI no Senado, em 2010

Uma casa nos Jardins, em São Paulo, de R$ 14 milhões, e um helicóptero, de R$ 8,4 milhões, seriam alguns dos itens da conta-corrente de propina paga desde 2011 pelo empresário Joesley Batista ao operador Lúcio Funaro, um dos personagens da crise no governo Temer.

O empresário entregou em seu acordo de colaboração a planilha de entrada e saída de pagamentos que mantinha com o operador, que mostra um total de repasses de R$ 173 milhões somente a Funaro. O montante é muito superior ao valor que Joesley terá que pagar de multa no compromisso de delação, que é de R$ 110 milhões -cada executivo da JBS pagará um valor próprio.

Iniciada em 2011, a conta-corrente era abastecida por diferentes empresas da holding J&F, dona da JBS, como Eldorado Celulose e Vigor.

Em seus depoimentos de colaboração, Joesley vincula diretamente o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a esses valores pagos a Funaro, dizendo que eles atuavam em conjunto, e cita ainda ligação desse "grupo" com Temer, por "ser da turma do PMDB da Câmara".

A maior parte do suborno pago se referia à liberação de empréstimos na Caixa Econômica, disse o delator.

Ele falou que Cunha e Funaro influenciavam as operações no banco e que, sem pagamento, não haveria a liberação de financiamentos. Citou ainda o ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto, que também virou delator.

Ao falar sobre o início dos pagamentos, Joesley disse que Funaro e Cunha foram "encampando" setores do governo de Dilma Rousseff e cobrando propina nas áreas sob suas influências. "Eles vinham tomando terreno, este grupo. Encampou o [fundo de investimento] FI-FGTS, encampou a Caixa, aí encampou o Ministério da Agricultura."

Na pasta da Agricultura, falou Joesley, teve que pagar propina de R$ 2 milhões por uma medida que nem sequer havia pedido, sobre a regulamentação da exportação de restos bovinos.

A planilha já tinha sido encerrada antes da delação, mas os pagamentos continuaram até uma semana antes de Joesley prestar depoimentos ao Ministério Público Federal, contou o empresário. Funaro está detido desde julho de 2016 e é réu em ação, em Brasília, sobre o FI-FGTS.

CASA REFORMADA

A planilha de Joesley mostra uma série de pagamentos vinculados à casa nos Jardins, como reforma de R$ 220 mil, em 2013, e até remuneração de funcionários.

Situação parecida ocorreu com o helicóptero. Joesley guardava junto ao balanço da conta de Funaro uma relação de pagamentos de taxas aeronáuticas e de seguro. Na planilha, há um lançamento de R$ 434 mil relacionado a gastos com o equipamento.

Nesta semana, a J&F acertou o pagamento de multa também em um acordo de leniência (espécie de delação empresarial). Serão desembolsados R$ 10,3 bilhões, mas em um prazo de 25 anos.

OUTRO LADO

Para a defesa de Lúcio Funaro, Joesley adotou a estratégia de contar "fabulações" ou distorções para conseguir "benesses" em seu acordo de colaboração premiada.

O advogado Bruno Espiñeira, que defende Funaro, diz que seu cliente tinha uma atuação legítima junto a Joesley, e trabalhou, por exemplo, prestando assessoria para solucionar pendências do grupo empresarial com o frigorífico Bertin. Apenas um dos contratos, disse, tinha valor de R$ 80 milhões.

Questionado a respeito da casa e do helicóptero, Espiñeira disse que não pode comentar o assunto porque desconhece detalhes sobre o caso.

Ele também não comentou as acusações de ligação com Eduardo Cunha.

A defesa de Cunha não se manifesta a respeito. Temer vem negando participação em irregularidades e afirma que "não tem o que esconder".


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