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JBS pagou propina a Renan por meio de contrato com o Ibope, diz delator

Pedro Ladeira/Folhapress
Senador Renan Calheiros, que participou de reunião com o presidente no último dia 9
Senador Renan Calheiros, que participou de reunião com o presidente no último dia 9

O ex-executivo da JBS Ricardo Saud disse em delação premiada que a empresa repassou propinas ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e ao ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves por meio de contratos simulados com o instituto de pesquisa Ibope Inteligência em 2014.

Segundo o delator, naquele ano o Ibope Inteligência emitiu notas fiscais à JBS sem que o instituto tivesse prestado serviços à companhia.

Em seus testemunhos à Procuradoria-Geral da República, Saud disse que a empresa repassou R$ 35 milhões à cúpula do PMDB no Senado em 2014.

Desse total, Renan Calheiros teria uma cota de cerca de R$ 10 milhões. Os valores alegados teriam sido distribuídos sob a forma de doações oficiais a diretórios do PMDB, de notas fiscais frias e repasses em dinheiro vivo.

O delator afirmou que duas empresas teriam emitido notas fiscais falsas à JBS para tentar disfarçar a propina ao senador alagoano: o Ibope Inteligência e a companhia GPS Comunicação.
Segundo documento apresentado pelo ex-executivo da JBS à Procuradoria, a nota fiscal do Ibope Inteligência foi lançada no dia 21 de julho de 2014, no valor de R$ 300 mil.

"[O Ibope Inteligência] fazia pesquisa para ele [Renan] e eles pagavam com essas propinas. O Ibope recebia propina. Nunca fez serviço para o grupo [JBS]", afirmou.

Em seu depoimento, o delator também disse que o instituto de pesquisa foi usado para repassar propina ao ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves, que em 2014 disputou o governo do Rio Grande do Norte.

De acordo com Saud, no caso de Alves a nota fria teve o valor de R$ 380 mil e foi emitida em 26 de agosto de 2014.

Ao falar desse documento, o ex-executivo da JBS comentou: "o Ibope tem muitas notas frias. Aliás, eles prestaram serviços para eles [políticos], mas quem pagou fomos nós".

Havia até uma estratégia do Ibope Inteligência em caso de investigações sobre os contratos, segundo o delator.

"Inclusive, eles mandavam para mim um contrato e um punhado de pesquisas, e falavam: "Você arquiva isso aí direitinho, e se amanhã acontecer alguma coisa, você mostra isso aí", relatou.
"Nunca fez pesquisa para mim. Pegava uma pesquisa nacional lá 'x' e queria pôr no contrato da gente", completou o ex-executivo da JBS.

OUTRO LADO

O Ibope Inteligência afirma que nunca emitiu notas fiscais falsas, nem recebeu qualquer tipo de propina do grupo JBS ou de qualquer outra empresa.

Em nota, o instituto de pesquisa diz que "é com indignação que tomou conhecimento da acusação de que emitiu notas fiscais falsas".

De acordo com o texto, "todas as notas fiscais mencionadas são verdadeiras, foram devidamente contabilizadas e estão registradas na Secretaria Municipal da Fazenda de São Paulo".

O Ibope Inteligência afirma ter recebido R$ 2,8 milhões em pagamentos por serviços prestados ao grupo JBS, sendo R$ 1,4 milhão para pesquisas eleitorais na cidade de Campo Grande (2012), e nos Estados de Alagoas, Goiás e Rio Grande do Norte (2014).

O R$ 1,4 milhão restante refere-se a pesquisas de mercado para as diversas empresas do grupo JBS, afirma o Ibope.

Segundo o instituto, além de mentirem, os delatores da JBS "misturaram em seus depoimentos pesquisas eleitorais realizadas para políticos com pesquisas sobre assuntos estratégicos das empresas do grupo".

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) diz que é "mentirosa" a afirmação do ex-executivo da JBS Ricardo Saud de que a empresa repassou propina ao congressista por meio de contrato simulado.

Segundo assessoria de Renan Calheiros, o Ibope chegou a ser contratado pelo PMDB de Alagoas, mas foi pago com dinheiro do partido, e tal quitação está registrada em prestação de contas aprovada pela Justiça Eleitoral.

A Folha não conseguiu fazer contato com o ex-ministro Henrique Eduardo Alves na noite desta quinta (25).


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