Folha de S. Paulo


Mesmo em crise, Brasil passa em teste na OEA

Jorge Adorno/Reuters
O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes (PSDB-SP)
O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes (PSDB-SP)

O Brasil acabou se saindo bem nesta quarta-feira (24) de um teste na OEA (Organização dos Estados Americanos), armado pelo Equador.

O representante equatoriano propôs ao Conselho Permanente, a principal instância da instituição, discutir "a grave situação vivida pela República irmã do Brasil".

Qualquer um dos 34 membros da OEA pode pedir a discussão de assuntos internos de outro membro, mas a diplomacia brasileira entendeu que o objetivo era atacar o governo Michel Temer, cuja ascensão já havia sido criticada pelo então presidente Rafael Correa.

Um segundo aspecto da petição equatoriana, segundo a diplomacia brasileira, era tirar o foco da Venezuela, cuja crise a OEA tenta inutilmente discutir, ante a rejeição dos aliados do governo Nicolás Maduro, entre eles o próprio Equador.

O chanceler Aloysio Nunes Ferreira, embora considerasse imprópria a discussão proposta pelo Equador, orientou o embaixador junto à OEA, José Luiz Machado e Costa, a não fazer como os bolivarianos, mas, ao contrário, enfrentar o debate.

Foi o que Machado e Costa fez. Primeiro, falou o embaixador equatoriano que chegou a dizer que a Corte Interamericana de Direitos Humanos havia questionado o impeachment de Dilma Rousseff.

Machado e Costa retrucou que, ao contrário, a Corte não aceitou petição que contestava o impeachment.

Depois, o embaixador brasileiro disse que o Brasil vivia de fato "uma situação política desafiadora", mas que as instituições estavam funcionando e os direitos fundamentais estavam sendo respeitados.

A sessão na OEA ocorreu antes dos incidentes de Brasília na tarde da quarta-feira e antes, portanto, da convocação dos militares para garantir a segurança na capital —fatos que, no mínimo, tornaram ainda mais desafiadora a situação política.

O que surpreendeu até o embaixador Machado e Costa foi o fato de que nenhum dos membros da OEA discordou de sua fala. Nem mesmo os países bolivarianos, como Bolívia e Nicarágua (a Venezuela retirou-se da instituição), que silenciaram.

Tampouco se manifestaram os 14 países caribenhos que costumam seguir, em bloco, o comportamento dos bolivarianos.

Os que falaram, depois do embaixador, elogiaram o discurso dele, entre eles os principais países americanos, como Estados Unidos, Canadá, Argentina e México. Além da Argentina, os outros dois sócios do Brasil no Mercosul (Paraguai e Uruguai) também se manifestaram de acordo com o relato.

Não quer dizer um aval ao governo Temer, mas ao funcionamento das instituições que, como é óbvio, estão acima de qualquer governo.

A OEA volta a se reunir dia 31, desta vez com a presença dos chanceleres, inclusive o brasileiro, para discutir a situação da Venezuela.


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