Folha de S. Paulo


Citada por Temer, operação só ocorreu na semana seguinte a visita de Joesley

Citada pelo presidente Michel Temer como um motivo para receber o empresário Joesley Batista, da JBS, a Operação Carne Fraca só foi deflagrada dez dias após o encontro dos dois no Palácio Jaburu, em março. A informação foi antecipada pelo site do jornal "O Globo".

Em entrevista à Folha publicada nesta segunda (22), Temer falou que Joesley o procurou três vezes. "Ele é um grande empresário. Quando tentou muitas vezes falar comigo, achei que fosse por questão da Carne Fraca. Eu disse: 'Venha quando for possível, eu atendo todo mundo'. [Ele disse:] 'Mas eu tenho muitos interesses no governo, tenho empregados, dou muito emprego'".

O encontro dos dois, que foi gravado e provocou a maior crise do governo Temer, ocorreu no dia 7 de março. A Operação Carne Fraca só saiu do sigilo e cumpriu seus mandados no dia 17, uma sexta-feira. A JBS, dona das marcas Seara e Big Frango, foi uma das principais atingidas.

Temer vem sendo criticado por ter recebido de maneira informal, sem constar em agenda, um empresário que já era alvo de diversas investigações. Na entrevista, Temer afirmou ainda que Joesley conseguiu seu telefone e que então ficou "sem graça de não atendê-lo".

Questionado, o presidente disse também que tem o "hábito", que diz não ser ilegal, de marcar audiências fora da agenda. "Marco cinco audiências e recebo 15 pessoas. Às vezes à noite, portanto inteiramente fora da agenda. Eu começo recebendo às vezes no café da manhã e vou para casa às 22h, tem alguém que quer conversar comigo."

Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto informou que "o presidente se enganou" ao ter citado a Operação Carne Fraca, mas não explicou o que realmente motivou o encontro.

Pedro Ladeira - 19.mar.2017/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 19-03-2017, 19h00: O presidente Michel Temer janta em churrascaria com embaixadores após reuniao no planalto, Na churrascaria Steak Bull. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
Temer janta em churrascaria com embaixadores, após a Operação Carne Fraca, em Brasília

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Os possíveis crimes de Temer

Outras acusações contra Temer na delação

Menções ao presidente no acordo de colaboração da JBS

Pagamentos a partir de 2010
O empresário Joesley Batista, da JBS, diz que fez pagamentos de R$ 4,7 milhões a pedido de Temer de 2010 a março deste ano. Na conta, diz, há um 'mensalinho' de R$ 100 mil e um repasse de R$ 300 mil, em dinheiro vivo, a um marqueteiro da confiança do presidente, Elsinho Mouco

R$ 1 milhão embolsado
O delator da JBS Ricardo Saud disse que a empresaria pagaria R$ 15 milhões ao PMDB, a pedido do PT, na campanha de 2014. Saud disse que Temer "guardou para ele, no bolso dele", R$ 1 milhão, que o atual presidente teria indicado para entrega em um endereço do coronel aposentado da PM de São Paulo João Baptista Lima Filho

O dinheiro recebido por Rodrigo Rocha Loures
Um dos principais aliados do presidente, o deputado federal pelo PMDB do Paraná foi flagrado recebendo mala com R$ 500 mil de Ricardo Saud, da JBS, em São Paulo. Existe a suspeita de que Temer seria o beneficiário

Senha para repasses a Cunha
Segundo Ricardo Saud, Temer sempre pedia para pagar Eduardo Cunha e o operador Lúcio Funaro mesmo na cadeia. "O código era 'tá dando alpiste pros passarinhos? Os passarinhos tão tranquilos na gaiola?", disse

Pedido a favor de Gabriel Chalita
Joesley diz que pagou caixa dois de R$ 3 milhões a Chalita, candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo em 2012, após Temer pedir os valores

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Perguntas e respostas sobre o áudio de Temer

Ouça

As gravações de Joesley são legais?
O STF tem decidido pela legalidade de gravações feitas pelo próprio participante de uma conversa. A dúvida sobre a legalidade surge quando uma pessoa grava, sem ordem judicial, conversas de terceiros, o que não foi o caso de Joesley.

O STF sabia que as gravações haviam sido feitas por Joesley sem acompanhamento judicial?
Sim. Quando o ministro Edson Fachin ordenou a abertura dos inquéritos, verificou a origem das gravações, relatada pela PGR (Procuradoria Geral da República) logo nos primeiros parágrafos do pedido de abertura da investigação. Caso houvesse ilegalidade, o ministro poderia ter ordenado a retirada dos arquivos dos autos

As gravações passaram por edição?
Setor técnico da Procuradoria não encontrou sinais de fraude ou adulteração. Porém perícia feita a pedido da Folha aponta que o material sofreu mais de 50 edições. A JBS não comentou o assunto. No momento mais polêmico do diálogo, sobre a mesada de Joesley a Cunha, a perícia não encontrou edições.

Havia "ação controlada", monitorada pelo Judiciário, para acompanhar as gravações de Joesley?
Não. A "ação controlada" começou depois da entrega dos áudios

Na conversa com Michel Temer, há interrupções bruscas na gravação, o que levou advogados de defesa alegarem edição ou fraude. O que houve?
Segundo a PGR, houve atritos entre o equipamento e a roupa de Joesley, o que pode ter causado interrupção das gravações, mas não edição ou fraude

Qual o equipamento usado nas gravações?
Os investigadores não sabem, pois Joesley Batista entregou os arquivos em pendrive. Ele colocou o equipamento no bolso do paletó. Isso explica a baixa qualidade em diversos momentos do áudio

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Hipóteses para saída de Temer

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A defesa de Temer

O presidente sustenta que o áudio é clandestino e foi "manipulado e adulterado, com objetivos nitidamente subterrâneos". Ele tenta suspender o inquérito até que a autenticidade seja verificada

Encontro
O presidente diz que trabalha rotineiramente até meia-noite ou mais e que costuma "ouvir à noite" empresários, políticos, trabalhadores e pessoas de diversos setores da sociedade.

Rodrigo Rocha Loures
Temer afirma que apenas indicou o deputado para "ouvir as lamúrias" e se "livrar" da visita de Joesley

"Tem que manter isso"
Temer diz que sugeriu apenas que o empresário permanecesse com uma boa relação. "A conexão é com a frase: eu me dou muito bem com o ex-deputado, mantenho uma boa relação. E eu digo: mantenha isso", falou o presidente, em depoimento. Afirma que não comprou o silêncio de ninguém porque não tem o que esconder

Cade
O peemedebista diz que as reclamações de Joesley, expostas na conversa, mostram que o governo não estava aberto para ele. Afirma que o Cade não decidiu nada a favor do empresário

Prevaricação
Temer diz que não levou a sério a história contada por Joesley e argumenta que o próprio empresário disse posteriormente que inventou o relato de que tinha comprado juízes. "Ele é um conhecido falastrão, exagerado."


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