Folha de S. Paulo


Assessor de Kassab é alvo da apuração de conflito de interesse no BB

Bruno Santos - 20.nov.2016/Folhapress
São Paulo, SP, BRASIL, 20 -11-2016: Fachada do Banco do Brasil, na Avenida Paulista, Zona Central de São Paulo. (Foto: Bruno Santos/ Folhapress) *** FOTO *** EXCLUSIVO FOLHA***
Fachada do Banco do Brasil, na avenida Paulista, em São Paulo

Um servidor do Ministério das Comunicações ligado há anos ao ministro Gilberto Kassab é alvo da auditoria interna conduzida pelo Banco do Brasil para apurar o processo de licitação de publicidade da instituição, cujo resultado foi antecipado pela Folha.

Marcos Sinval integrou a subcomissão de licitação que deu notas às agências que participaram da concorrência. Ele foi secretário de Comunicação da Prefeitura de São Paulo durante a gestão do hoje ministro e é sócio de uma empresa de comunicação digital que firmou contratos ao longo dos últimos anos com algumas das maiores agências do país, entre elas algumas das que concorreram à licitação do BB.

Pela participação na empresa Pixel 4, Sinval é suspeito de ter incorrido em conflito de interesses por ter aceitado integrar a subcomissão de licitação do BB.

A análise das notas dadas por Sinval às 14 empresas que participaram do certame mostra que ele teve atuação decisiva para levar ao primeiro lugar da concorrência a agência Multi Solution, que acabou vencendo a licitação, hoje revogada após a série de reportagens da Folha.

Ele foi o jurado que deu as maiores notas à Multi na avaliação do plano de comunicação oferecido pela agência. Nesta fase da licitação, os documentos com as propostas eram apócrifos, ou seja, em tese, não havia nada nos papéis que pudesse identificar a autoria do projeto.

Sinval dá nota máxima à Multi Solution em dois quesitos: estratégia de comunicação e ideia criativa. Ele também dá dois pontos a mais à agência do que a maioria de seus colegas no quesito estratégia de mídia.

A tendência de notas elevadas à Multi Solution se repetiu na fase da licitação em que as propostas eram identificadas, ou seja, quando o julgador sabe quem é o dono da avaliação.

É dele a maior nota dada à agência no quesito capacidade de atendimento (14 de 15 pontos). A Multi Solution tem um escritório em São Paulo e não possui estrutura em Brasília, por exemplo.

VÍNCULOS

A Pixel atua no mercado há anos. Fez trabalhos para a Prefeitura de São Paulo durante a gestão de Fernando Haddad, por exemplo, após vencer concorrências pelo menor preço para atuar em parceria em empresas como a Nova S/B e a Lua.

Sinval se tornou sócio da empresa em março de 2016. De lá para cá, sua agência venceu uma concorrência, também de menor preço, para atuar com a Nova S/B na conta do Metrô.

A Nova participou da licitação do Banco do Brasil e acabou classificada em terceiro lugar após uma concorrente ser desqualificada. Esse vínculo entre ela e a Pixel, segundo a Folha apurou, também é alvo de investigações dentro do BB.

Procurado pela reportagem, Sinval afirmou que "em julho de 2016, logo após ser nomeado, encaminhei à Comissão de Ética Pública da Presidência declaração de informações em que consta esta minha participação societária."

O servidor afirma que sua empresa se comprometeu a não disputar qualquer concorrência na esfera federal, para não haver risco de conflito de interesse.

"Como medida adotada para prevenir conflito de interesses, neste documento, inclusive, está firmada declaração voluntária e de consenso entre os sócios, de que tal empresa não prestaria e não prestará direta ou indiretamente, nem mesmo prospectaria ou prospectará serviços junto ao governo federal, tanto na administração direta, indireta como estatais."

Lotado na assessoria de comunicação do ministério, diz "os fornecedores de publicidade com quem lido profissionalmente atualmente são agências que não concorreram na licitação do Banco do Brasil".

Ele ainda justifica as notas que deu às agências na licitação. "Juntamente com a comissão julgadora, avaliei todas as propostas considerando os objetivos de comunicação do banco, segundo os quesitos e subquesitos determinados no edital e de acordo com minha experiência na área."

Em comunicado recente, a Multi Solution disse que lamenta a decisão do Banco do Brasil de revogar o processo licitatório e que "tomará medidas cabíveis para entender qual o conflito de interesse que justificou a revogação".

"A agência afirma que nunca teve a sua idoneidade questionada, nem esteve envolvida em qualquer projeto, concorrência pública ou privada que desabonasse sua imagem."

A Nova S/B afirmou que "o julgador Marcos Sinval foi escolhido no dia 16 de março de 2017 através de sorteio entre 6 pessoas de outros órgãos de governo e sem vínculos com o Banco.

"Caberia ao Banco exclusivamente, neste momento e não às concorrentes verificação de qualquer tipo de conflito de interesses. E, importante relembrar que o nome dele como de qualquer outro não foi impugnado por ninguém."

"Se o Banco tivesse consultado a Comissão de Ética da Presidência da República, teria sabido que o referido julgador era sócio cotista da empresa Pixel4. Aliás esta informação seria irrelevante naquele momento, pois o Banco estava contratando uma agência de publicidade e não uma empresa digital."


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