Folha de S. Paulo


PSDB racha sobre permanecer no governo de Michel Temer

Ruy Baron - 2.fev.2015/Valor cultura/Folhapress
O senador do PSDB Tasso Jereissati durante entrevista

O PSDB rachou sobre sua permanência no governo de Michel Temer (PMDB). Se a sigla começou a quinta (18) com um pé e meio fora da gestão que apoiou desde o primeiro minuto, o fim do dia viu sua nova direção segurar os principais ministros do partido nos cargos.

Numa confusão que faz jus à fama de agremiação em cima do muro, o PSDB ainda espera uma avaliação mais precisa do áudio no qual Temer aparece numa conversa sobre obstrução à Justiça com Joesley Batista para definir sua posição final.

A divisão do partido se deu ao longo do dia. Grosso modo, a bancada tucana na Câmara, os chamados "cabeças pretas" por não terem ou disfarçarem cabelos grisalhos associados aos caciques, defendia a entrega de cargos, a defesa da renúncia de Temer e consequente eleição indireta para presidente.

A tese parecia vitoriosa ao longo do dia, até que Temer fez o pronunciamento em que foi enfático na defesa do que conversara com Joesley.

A divulgação do áudio selou a dúvida tucana: apesar de o presidente e o empresário estarem conversando sobre crimes, a anuência explícita do peemedebista a um cala-boca a ao ex-deputado Eduardo Cunha na cadeia não se configura cristalina.

BASE DE TEMER Governo enfrenta ameaça de perda de apoio no Congresso

Com isso, Tasso levou três de seus quatro ministros (Bruno Araújo, das Cidades, o chanceler Aloysio Nunes Ferreira e Antonio Imbassahy, da Secretaria-Geral) ao gabinete de Temer.

Saíram convencidos a ficar, por ora, ainda que Temer vá ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal.

A outra ministra, Luislinda Valois (Direitos Humanos), manteve a disposição de deixar o cargo. Repete o movimento do PPS, que se diz fora ao tirar Roberto Freire (Cultura), apesar de manter Raul Jungmann por ocupar a pasta estratégica da Defesa.

Já o PSD de Gilberto Kassab ficou na moita, dizendo manter apoio mesmo que Temer caia —o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que herdaria a cadeira por 30 dias, precisará de equipe, na argumentação oferecida pelo partido.

Os tucanos vivem o dilema enquanto tentam salvar o partido da desintegração. Se há nuances no áudio de Temer, a investigação sobre o ex-presidente da sigla, Aécio Neves, é devastadora.

Um dos principais responsáveis pela adesão ao governo Temer já no afastamento de Dilma Rousseff do cargo, Aécio estava no programa de TV do partido falando em renovação política.

No PSDB, isso começou com sua saída do controle da máquina. Alvo de uma operação policial que prendeu sua irmã e mentora, Andrea, afastado do cargo pelo STF e pontificando áudios comprometedores, Aécio tornou-se impossível de ser defendido na opinião dos colegas.


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