Folha de S. Paulo


Mercado político especula possíveis candidatos à Presidência

Pedro Ladeira/Folhapress
Presidente Michel Temer diz que não irá renunciar à Presidência durante pronunciamento no Palácio do Planalto, em Brasília
Presidente Michel Temer diz que não irá renunciar à Presidência durante discurso no Palácio do Planalto

O manto da incerteza cobre não só o futuro de Michel Temer à frente da Presidência, mas também as opções de saídas eleitorais no caso de sua queda: eleição direta ou indireta, como prevê a Constituição?

Enquanto isso, o mundo político especula nomes, em especial no cenário indireto.

Emergem, entre outros, a presidente do Supremo, Cármen Lúcia, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Cármen tem conversado com alto empresariado e políticos. Mineira, ela já mostrou que pode jogar além dos limites institucionais estreitos em episódios como no apaziguamento de um Renan Calheiros que havia desobedecido à Justiça.

A vantagem óbvia: é um nome do "partido da toga", longe dos rolos da Lava Jato. A desvantagem: o que esperar dela em termos de condução de política econômica. Irá se comprometer com reformas desejadas pela mesma elite que agora contempla se abandona Temer?

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Aqui o nome de Meirelles (PSD) ganha força, pois poderia se vender como o "homem das reformas" e acalmar o mercado que prevê o Apocalipse a cada crise. Seria impopular, como Temer, mas o mandato é tampão.

O problema é que, tendo sido presidente do conselho da holding que controla a JBS e outras empresas até 2016, há dúvidas na classe política e entre empresários sobre o que poderia ser dito sobre ele pelos irmãos delatores.

Até aqui, ele escapou da Lava Jato, tendo deposto como testemunha de defesa de Luiz Inácio Lula da Silva.

Fosse realizada eleição direta, nenhum deles poderia ser candidato porque Cármen não é filiada e Meirelles teria de ter deixado do cargo seis meses antes do pleito.

Ocorre que, se a disputa for indireta, as regras ainda terão de ser determinadas, provavelmente pelo Supremo, como ocorreu nos impeachments de 1992 e 2016.

No caso de o rito para eleições diretas valer, ganha alguma força o deputado Maia. Ele tem bom trânsito na enorme base aliada de Temer, embora pese contra si uma delação na Lava Jato. Ele nega, mas o selo de "enrolado" na operação parece ser uma sentença de morte nesses dias.

Outros nomes nos últimos dias, antes do agravamento da crise, eram os do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e do ex-ministro Nelson Jobim (PMDB). Aos 85 anos, FHC parece fora do páreo, e Jobim é associado à defesa de réus da Lava Jato, além de ter o maior programa que tocou como ministro da Defesa de Lula, a compra de submarinos franceses, na mira da operação.

Todos esses cenários descontam a demanda por um pleito direto, que depende de uma improvável aprovação de emenda constitucional ou uma releitura de regras do Tribunal Superior Eleitoral caso ele casse a chapa Dilma-Temer em junho. E, claro, de mobilização nas ruas.

Aqui, o que se tem é uma replicação das pesquisas eleitorais recentes, com Lula à frente, seguido de Marina Silva (PV) e Jair Bolsonaro (PSC).

O PSDB, que buscava ganhar tempo para definir quem seria seu candidato no ano que vem, hoje quase certamente teria de ser o prefeito paulistano João Doria, único nome graúdo do partido fora do escopo da Lava Jato.


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