Folha de S. Paulo


Vaivém do PSDB dá o tom da reação de aliados de Temer em dia de crise

A fritura com que o presidente Michel Temer (PMDB)teve que lidar ao longo desta quinta-feira (18) até a hora em que fez seu pronunciamento no fim da tarde foi reforçada por idas e vindas da base aliada, principalmente do PSDB, partido que tem quatro ministros no governo e é um dos principais pontos de apoio do executivo.

Temer encerrou o dia com um ministro a menos -Roberto Freire (Cultura), do PPS, entregou o cargo- e com a ameaça do PSDB de entregar as posições que tem na Esplanada em caso de comprovação das denúncias que pairam sobre o presidente.

O DEM foi um dos poucos partidos a se manter impassível diante do turbilhão, com exceção do seu líder no Senado, Ronaldo Caiado (GO), que defendeu o impeachment logo após o pronunciamento em que o presidente afirmou que não iria renunciar.

"Ele optou muito mais pela imunidade institucional do que pela realidade pela qual passa o país", afirmou.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), manteve-se como forte aliado do presidente, mesmo sendo o primeiro na linha de sucessão para assumir o país em caso de renúncia.

Maia passou o dia com o presidente numa espécie de bunker no Palácio do Planalto, enquanto parlamentares tucanos e do DEM utilizavam a residência oficial do presidente da Câmara como gabinete de gestão de crise.

Pedro Ladeira/Folhapress
Plenário da Câmara logo após a divulgação da notícia sobre a delação dos donos da JBS
Plenário da Câmara logo após a divulgação da notícia sobre a delação dos donos da JBS

A sensação de que Temer estaria a ponto de ver sua base se esvair baseou-se em sinalizações do PSDB ao longo do dia. Até a conclusão deste texto, os tucanos continuavam no governo.

No fim da manhã, o secretário geral do PSDB, deputado Silvio Torres, disse que o partido não desembarcaria do governo.

Pouco depois, o líder na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), anunciou que os quatro ministros tucanos poderiam entregar seus cargos, informação desmentida horas mais tarde pelo líder no Senado, Paulo Bauer (SC).

O clima de confusão continuou. Funcionários do Itamaraty disseram à Folha que o ministro Aloysio Nunes já havia escrito sua carta de demissão, o que ele negou.

Também circularam rumores de que o tucano Bruno Araújo (Cidades) estaria de partida, o que não se confirmou após uma conversa do titular com Antônio Imbassahy, ministro da Secretaria de Governo da Presidência e tucano forte na gestão Temer.

BASE DE TEMER Governo enfrenta ameaça de perda de apoio no Congresso

PPS

Em nota assinada pelo seu presidente, Davi Zaia, o PPS disse que decidiu deixar o governo, entregando a pasta da Cultura.

Mas afirmou que o ministro da Defesa, Raul Jungmann, "que também é filiado ao partido, irá permanecer na função pela relevância de sua área de atuação de segurança do Estado brasileiro neste momento de crise".
O PTN foi o primeiro a anunciar a saída da base. As duas siglas reúnem 21 deputados (dos 513 na Câmara).

Já as bancadas do PMDB, PR e PTB divulgaram notas reafirmando apoio a Temer.

BUNKER

A residência oficial da Presidência da Câmara tornou-se o quartel-general da crise nesta quinta (18). Com ou sem a presença do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), parlamentares não paravam de chegar e partir do local.

Maia pode assumir a Presidência em caso de renúncia ou impeachment de Temer.

Para evitar jornalistas, o deputado não pisou na Câmara. Passou o dia entre sua casa e o Planalto. Acompanhado de parlamentares de diversos partidos, manteve contato com o presidente Michel Temer durante todo o dia, por telefone ou pessoalmente.

Quem passou o dia com Maia disse que ele dava força a Temer, ponderando que era necessário esperar "o todo", ou seja, as gravações, divulgadas somente à noite. (LUCAS VETTORAZZO, DANIEL CARVALHO, LAIS ALEGRETTI, TALITA FERNANDES E RANIER BRAGON)


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