Folha de S. Paulo


Análise

Com indignação e frases de efeito, discurso de Temer ecoa Nixon

Pedro Ladeira/Folhapress
O presidente Michel Temer em pronunciamento nesta quinta-feira
O presidente Michel Temer em pronunciamento nesta quinta-feira

Muito antes de cair, o presidente americano Richard Nixon se dirigiu às câmeras de televisão e declarou com firmeza, no final de 1973, num momento para a história: "Não sou um ladrão".

Michel Temer também foi bastante firme em seupronunciamento desta quinta, no mesmo cenário. Por exemplo, do brasileiro: "Não comprei o silêncio de ninguém".

Outra passagem, a mais repetida no noticiário, posteriormente: "Não renunciarei. Repito, não renunciarei. Sei o que fiz e sei da correção dos meus atos."

Nixon também dizia: "Em todos os meus anos de vida pública, nunca obstruí a Justiça. E dou boas-vindas a essa investigação". Temer foi até além, no último ponto: "Exijo investigação plena e muito rápida".

A canção de cisne do americano -que também não foi muito diferente de uma outra, de Fernando Collor- aconteceu oito meses antes de sua renúncia.

A depender da convicção e do amontoado de expressões faciais crispadas, de revolta, apresentados pelo brasileiro durante seu curto discurso, a agonia também poderá se prolongar por aqui.

Foi um Temer desconhecido ou talvez só conhecido por quem o viu, longe no passado, em algum tribunal do júri, ele que chegou a atuar como procurador.

Estava indignado, com a voz transtornada, em revolta contra a injustiça que praticam contra ele, em especial com a recusa do Supremo em liberar o áudio da conversa que poderia permitir defesa mais adequada. O áudio saiu logo após o pronunciamento, tornando sem sentido sua suposta lembrança do diálogo, de que o empresário teria falado que "auxiliava a família" de Eduardo Cunha.

Mais importante, a gravação trouxe novos constrangimentos -como os relatos de obstrução da Justiça ou a promessa de apoio no Ministério da Fazenda.

Seu discurso, mais do que à nação, apesar das câmeras todas, havia sido aos agentes econômicos, com uma ameaça subliminar de que, sem ele, a pouco convincente recuperação da economia brasileira vem abaixo.

Pela edição de suas palavras na escalada do "Jornal Nacional", no início da noite, não convenceu.

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