O presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista, do grupo JBS, discutiram um "alinhamento" para nomeações das presidências do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
Em conversa gravada pelo empresário e que integra sua delação junto à Procuradoria Geral da República, Joesley questiona se ele pode dizer a Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, que conta com o respaldo do presidente para fazer indicações.
"Então, pronto, é esse alinhamento que eu queria ter", disse Joesley, referindo-se a pressionar o ministro da Fazenda para considerar suas sugestões.
E Temer responde: "Pode fazer isso".
Na reunião, que aconteceu no Palácio do Jaburu, em março, o empresário se queixa ao presidente que Meirelles está se esquivando de atender os seus pedidos.
"Eu queria ter alguma sintonia contigo para ele não jogar. Pô, Henrique, então você é um banana, não manda porra nenhuma", disse.
Antes de entrar para o governo Temer, Meirelles foi presidente do conselho de administração da J&F, holding que congrega as empresas da família Batista. Sua missão foi relançar o banco Original.
Temer e Joesley não chegaram a discutir nomes.
O empresário diz apenas que é "importantíssimo ter um presidente do Cade ponta firme" e que a CVM "é outro cargo fundamental".
O mandato do presidente da CVM, Leonardo Pereira, que está desde 2012 no cargo, termina no dia 14 de julho deste ano.
No mês passado, Temer indicou Alexandre Barreto de Souza, funcionário do TCU (Tribunal de Contas da União), para o comando do Cade.
CUNHA
Joesley também contou ao presidente que foi pressionado pelo ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para exercer influência sobre Meirelles.
"Ele (Eduardo) veio e me deu uma cobradazinha (...), agora tem que trabalhar, você está com o Ferrari", disse. "Mas, peraí, o Henrique também não vai ficar fazendo...", completou Joesley.
O empresário também reclama com o presidente que os empréstimos no BNDES estão travados.
Temer explica que os servidores do banco estão "com um medo terrível de mexer em qualquer coisa".
Em pronunciamento nesta quinta (18), o presidente Michel Temer (PMDB) chamou as gravações de "clandestinas", afirmou que não tem "nada a esconder" e que, por isso, não precisa de foro privilegiado.
Ele disse que não vai renunciar ao cargo e que não agiu para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).