Folha de S. Paulo


Crise política no Brasil gera pico de cobertura na imprensa dos EUA

Pedro Ladeira/Folhapress
Presidente Michel Temer diz que não irá renunciar à Presidência durante pronunciamento no Palácio do Planalto, em Brasília
Presidente Michel Temer diz que não irá renunciar à Presidência durante discurso no Palácio do Planalto

Minutos antes de o presidente Michel Temer declarar que não renunciaria ao cargo em um pronunciamento oficial, nesta quinta (18), a notícia da crise política no Brasil já era o segundo tema mais falado na mídia dos Estados Unidos. Agregadores de publicações americanas indicavam que apenas a pressão política sobre Donald Trump era mais tratado na imprensa do país.

"Os americanos estão acompanhando o noticiário sobre a política brasileira de perto desde o ano passado", explicou Tom Reichert, chefe do departamento de publicidade e relações públicas da Universidade da Georgia (EUA). "Agora há um pico no número de reportagens sobre o Brasil, por conta da nova crise", complementou, em entrevista à Folha, em São Paulo, onde apresentou o mais amplo estudo sobre a percepção da imprensa americana a respeito do Brasil.

Segundo ele, apesar de o atual escândalo estar chamando muita atenção, e de o foco na instabilidade política levantar discussões sobre as implicações econômicas dela, há uma sensação de que pode haver finalmente uma solução para a crise.

"Depois do atual pico no noticiário, haverá uma oportunidade para mostrar o Brasil no exterior sob um enquadramento novo. Pode haver a sensação de renovação, de dar um passo adiante no sentido da busca da estabilidade e da resolução da crise", disse.

Ao longo de 2016, Reichert coordenou um levantamento que analisou 143.549 reportagens sobre o Brasil na mídia dos EUA. O estudo foi além do que dizem os veículos mais famosos e relevantes, como o "New York Times" e o "Washington Post", e incluiu pequenos jornais, sites temáticos e veículos locais espalhados pelo país. O estudo foi feito em parceria com a empresa brasileira Imagem Corporativa, e visa entender a imagem do Brasil no mercado americano.

"O cenário midiático está mudando. Notícias locais e redes sociais têm se consolidado como mais importantes do que grandes veículos como fonte de informação dos americanos", avaliou Itai Himelboim, diretor do departamento de engajamento de redes sociais e publicidade da mesma universidade americana, que também coordenou o trabalho divulgado em São Paulo. Segundo ele 60% das referências ao Brasil foram encontrados em fontes menos conhecidas no resto do mundo.

O levantamento, eles explicaram, ajuda a entender o pensamento dos americanos como um todo, incluindo os eleitores de Donald Trump, muitas vezes desconhecidos da grande mídia dos EUA. "É um estudo que visa entender como o Brasil é visto nos EUA, perceber o que os americanos pensam do Brasil", explicou Reichert.

A pesquisa apresentada na quinta (18), indica que "2016 foi um ano difícil para o Brasil". Apenas 2% do noticiário americano sobre o país pode ser lido como positivo, 61% das notícias foram neutras e 37% tiveram viés negativo. A Olimpíada foi tema de 29% das menções ao país no ano, mas assuntos de política dominaram quase 70% das reportagens sobre o Brasil.

A pesquisa também incluiu um levantamento preliminar do comportamento do noticiário americano sobre o Brasil nos três primeiros meses deste ano. Ao contrário do foco em esportes e política registrado em 2016, notícias sobre violência (protestos em presídios, assassinatos e greve da polícia) foram as que tiveram maior pico de cobertura no país. O escândalo das carnes adulteradas também teve muita atenção.

"Vemos uma diversidade muito maior de temas. Histórias menores e mais locais passaram a ganhar destaque. É aqui que aparece a oportunidade do brasil de levar sua narrativa ao público americano", explicou Himelboim.

Outro diferencial deste ano é que houve um encolhimento da cobertura. O primeiro trimestre do ano registrou 22.090 notícias sobre o Brasil nos EUA, bem menos do que as 47.268 menções em reportagens no mesmo período do anterior. O percentual se notícias negativas caiu a 32% no período, com 66% de menções neutras e 2% positivas.


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