Folha de S. Paulo


Deputado suspeito de transportar dinheiro veio da iniciativa privada

Apontado, segundo delação do empresário Joesley Batista revelada pelo jornal "O Globo", como responsável por receber R$ 500 mil a pedido do presidente Michel Temer (PMDB), o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) era um neófito na política há até pouco tempo.

Filho de empresários da área alimentícia, ele foi um dos executivos responsáveis pela criação das barrinhas de cereal da empresa Nutrimental -de propriedade de seu pai, o empresário Rodrigo Costa da Rocha Loures, ex-presidente da Federação das Indústrias do Paraná.

Rodriguinho, como é conhecido, se aproximou da política na campanha de 2002: ele e o pai apoiaram o atual senador Roberto Requião (PMDB-PR), que era candidato ao governo.

A família doou R$ 110 mil à campanha do peemedebista. Rocha Loures, o filho, teve um bom relacionamento com Requião, que, eleito, o convidou para ser seu chefe de gabinete. Foi o seu primeiro cargo público.

Bruno Poletti - 7.abr.2016/Folhapress
SAO PAULO, SP, 07.04.2016: Rodrigo Rocha Loures, empresario - Abertura da exposicao Historias da Infância. Foto: Bruno Poletti/Folhapress, FSP-COTIDIANO) ***EXCLUSIVO FOLHA***
O deputado e empresário Rodrigo Rocha Loures

De perfil executivo, Rocha Loures era prático e organizado, segundo antigos colegas de trabalho -e, acima de tudo, bem articulado.

Formado em administração de empresas pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), conquistava aliados na política pelo bom papo e relacionamento.

A filiação ao PMDB só ocorreu em 2005. No ano seguinte, se candidatou e elegeu-se deputado federal pelo partido.

A aproximação com Temer, de quem foi assessor especial até o início deste ano, se deu na militância do PMDB. Os dois se identificaram e se tornaram muito próximos.

Desde 2011, ele trabalha com o presidente, quando Temer foi eleito vice na chapa de Dilma Rousseff. Rocha Loures, na época, era chefe de Relações Institucionais da Vice-Presidência. Depois, migrou para o Planalto. Só saiu do cargo para assumir a cadeira na Câmara, em março deste ano, como suplente do atual ministro da Justiça Osmar Serraglio (PMDB-PR).

Na última eleição que disputou, em 2014, Rocha Loures declarou um patrimônio de R$ 1,18 milhão.

Nesta terça, o deputado estava em Nova York, onde participou do jantar de gala que homenageou o prefeito João Doria (PSDB) e fez palestra sobre a política brasileira a um grupo de investidores internacionais.

Segundo sua assessoria, Rocha Loures tem retorno programado para esta quinta (18). "Em seu retorno, o deputado deverá se inteirar e esclarecer os fatos divulgados."

Em nota, o presidente Michel Temer negou ter solicitado pagamentos ilícitos para obstruir a delação de Eduardo Cunha, e disse que não ocorreu nada que comprometesse a sua conduta no encontro com Joesley Batista.

GABINETE

A aproximação com Temer, de quem foi assessor especial até o início deste ano, se deu na militância do PMDB.

Deputado, Rocha Loures virou vice-líder do PMDB na Câmara. Afeito ao cerimonial de Brasília e hábil em articulações políticas, ele se aproximou de Temer, então presidente nacional do partido. Os dois se identificaram no jeito de fazer política e se tornaram muito próximos.

"É uma belíssima figura da vida pública brasileira", disse Temer sobre o aliado, em depoimento para a campanha de Rocha Loures, em 2014. "Veio aqui para o meu gabinete e me ajudou enormemente."

Desde 2011, ele trabalha com o presidente, quando Temer foi eleito vice na chapa de Dilma Rousseff. Rocha Loures, na época, foi nomeado chefe de Relações Institucionais da Vice-Presidência. Depois, migrou para o Planalto, como seu assessor especial.

Por sua origem no setor privado, é responsável por intermediar parte dos contatos de Temer com o empresariado.

Para aliados ouvidos pela Folha, a proximidade com o presidente cresceu também por seu caráter "puxa-saco". "Ele trata bem todo mundo, é um lorde, mas também um papagaio de pirata", diz um deputado.

Na sua última disputa eleitoral, em 2014, o PMDB nacional doou R$ 1,1 milhão à sua campanha, mais que um terço do total dos recursos arrecadados. Temer, por meio de seu comitê de campanha, doou R$ 200 mil.

Mesmo com o forte apoio do PMDB, fez apenas 58 mil votos para deputado no Paraná -cerca de 30 mil a menos que em sua primeira eleição, oito anos antes.

Naquela época, em 2006, 90% das doações vieram de seu próprio bolso ou da empresa da família.

Rocha Loures só saiu do cargo de assessor para assumir a cadeira na Câmara, em março deste ano, como suplente do atual ministro da Justiça Osmar Serraglio (PMDB-PR).

Na última eleição que disputou, em 2014, Rocha Loures declarou um patrimônio de R$ 1,18 milhão. Separado, ele tem dois filhos adolescentes, que moram em Curitiba. Os pais vivem em São Paulo, onde ele teria recebido a mala com R$ 500 mil, a pedido de Temer, segundo delação de Joesley Batista.

A assessoria do deputado informou que ele está em Nova York, onde participou do jantar de gala que homenageou o prefeito João Doria (PSDB) e deu palestra sobre a política brasileira a investidores internacionais.

Ainda segundo a assessoria, ele vai se inteirar das acusações e esclarecer os fatos em seu retorno ao Brasil, que deve ocorrer nesta quinta (18).


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