Folha de S. Paulo


Mulher de Santana diz que recebeu caixa dois das mãos de Nicolás Maduro

Federico Parra - 17.mai.2016/AFP
Venezuelan President Nicolas Maduro reads a newspaper article during a press conference at the Miraflores presidential palace in Caracas on May 17, 2016. The army in crisis-hit Venezuela has to choose whether it is
Nicolás Maduro lê artigo de jornal no palácio de Miraflores, em Caracas

A mulher do marqueteiro João Santana, Mônica Moura, afirmou, em acordo de delação premiada, que recebeu recursos em caixa dois diretamente das mãos do atual presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que era chanceler na ocasião do suposto repasse.

Mônica entregou às autoridades da Lava Jato uma série de "anexos", que são resumos do que deveria dizer ao Ministério Público como parte do acordo de de delação. Ela disse que os pagamentos ocorreram em virtude de serviços prestados para campanhas eleitorais.

"O então chanceler Nicolás Maduro - que viria a se tornar presidente depois da morte de [Hugo] Chávez -, exigiu que Mônica Moura recebesse quase todos os valores pagos pela campanha de reeleição do presidente Chávez (2012) por fora, através de pagamentos realizados pelas empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez", diz o documento.

Segundo Mônica, "parte desse valor não contabilizado foi paga em espécie, entregue em Caracas diretamente a Mônica Moura pelo chanceler Nicolás Maduro, na própria sede da Chancelaria. Maduro recebia Mônica em seu próprio gabinete, entregava-lhe pastas com dinheiro e providenciava escolta para lhe dar segurança no percurso da Chancelaria à produtora".

Mônica disse que recebeu de Nicolás Maduro pelo menos US$ 11 milhões "em espécie na própria sede da Chancelaria" e ainda restou "uma dívida de US$ 15 milhões, nunca saldada".

Segundo Mônica, o ex-ministro José Dirceu "participou das primeiras reuniões políticas em Caracas, fazendo, a pedido do embaixador, um elo de ligação da equipe de estratégia política da Polis [agência de publicidade] com o comando estratégico da campanha de Chávez".

A DELAÇÃO DO CASAL - Acusações de João Santana e Mônica Moura ao Ministério Público Federal

Ainda conforme a mulher de João Santana, o jornalista e ex-ministro de Lula Franklin Martins "foi contratado, juntamente com sua equipe, para elaboração da parte de internet da campanha, pelo partido venezuelano. Nessas viagens iniciais, todos ficavam em hotel pago, em Caracas, pelo escritório local da Andrade Gutierrez. Em uma das viagens, foi também um dos filhos do dono da construtora."

Segundo Mônica, parte do valor que ela recebeu em espécie "era repassado para Mônica Monteiro (mulher do Franklin Martins), pois eles eram os responsáveis pela parte de internet da campanha".

"Importante frisar que Franklin e sua equipe foram contratados pelo partido venezuelano, também sem contrato formal, igualmente sem vínculo com a Pólis. Nicolás Maduro era sempre muito desconfiado, não queria entregar dinheiro em espécie para mais de uma pessoa, pelo risco da negociação, por isso, entregava todo valor a Mônica Moura, que repassava para mulher do Franklin Martins", afirma o documento.

Segundo Mônica Moura, o então embaixador da Venezuela no Brasil, Maximiliano Arvelarz, "foi o principal articulador e fiador da campanha de Hugo Chávez em 2012". "Ele tinha excelente trânsito entre dirigentes de grandes empresas brasileiras que tinham negócios na Venezuela –como a Andrade Gutierrez e a Odebrecht–, além de relações próximas com a cúpula do PT, no Brasil", diz Mônica em sua delação.

"A prática de utilização de pagamentos por fora, oriundos de propinas recebidas pelos políticos, não era exclusividade das campanhas realizadas no Brasil. O embaixador Maximiliano Arvelarz demonstrava intimidade com a Andrade Gutierrez que, inclusive, disponibilizava jatinhos para viagens. Em pelo menos três voos, viajavam juntos João Santana, Mônica Moura, Franklin Martins e José Dirceu, no trecho São Paulo-Caracas", afirma o documento entregue por Mônica ao Ministério Público Federal.

Advogado de José Dirceu, Roberto Podval disse que não teve a oportunidade de ver as declarações de Mônica e que só se manifestaria depois disso.

Procurada pela Folha às 17h00 desta quinta-feira (11), a Embaixada da Venezuela no Brasil não respondeu às chamadas telefônicas.

A reportagem também tentou entrar em contato com Franklin Martins, mas não teve resposta.


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