Folha de S. Paulo


Em nome de mineral 'xodó', Bolsonaro quer vetar novas áreas indígenas

Ricardo Borges/Folhapress
Rio de Janeiro, Rj, BRASIL. 10/03/2017; Retrato do deputado Jair Bolsonaro em clube de subtenentes e sargentos do exército na cidade do Rio de Janeiro. ( Foto: Ricardo Borges/Folhapress)
O deputado Jair Bolsonaro em clube de subtenentes e sargentos do exército, no Rio

Pré-candidato à Presidência em 2018, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) tem usado parte do tempo em suas palestras pelo país para atacar demarcações de terras indígenas e defender a exploração de recursos estratégicos nesses locais, como o nióbio, produto retirado de minerais que abundam no território brasileiro.

Segundo pesquisa Datafolha publicada no domingo (30), Bolsonaro tem trajetória ascendente e chega a 15% em um dos cenários pesquisados.

O deputado costuma dizer que o país deveria ter maior controle sobre suas reservas de nióbio e afirma haver jazidas gigantes do produto ainda inexploradas justamente por estarem sob terras demarcadas em Roraima.

O nióbio é considerado um recurso estratégico. Se misturado ao ferro, cria uma espécie de superliga, mais leve e resistente que o aço comum.

É utilizado em gasodutos, turbinas, chassis de carros e até em foguetes espaciais e reatores nucleares.

O Brasil tem a maior reserva conhecida e domina o mercado mundial. É o quarto produto mais exportado da balança comercial mineral brasileira. O país tem 98% das reservas comercializáveis do nióbio. No mercado mundial, tem 90% das vendas. O Canadá, os 10% restantes.

Países sem o recurso em seu território fazem reservas estratégicas do produto. Na China, é crescente o uso na indústria de construção.

Em 2010, relatório do Departamento de Estado do EUA vazado pelo WikiLeaks colocava o nióbio no rol dos produtos estratégicos para o país, o que estimulou teorias da conspiração de que o mineral brasileiro estivesse sob risco iminente.

Produção nacional da liga ferro-nióbio, em toneladas -

MITOS

Bolsonaro, que tem forte discurso nacionalista, tem prestado muita atenção nesta pauta, embora exagere quanto a alguns fatos.

"O nióbio vale mais do que o ouro", disse, por exemplo, em uma palestra no Clube Hebraica do Rio de Janeiro, no início de abril.

Na verdade, uma tonelada de nióbio, já transformado em liga, custa atualmente cerca de US$ 15 mil. O quilo do ouro, na cotação de sexta-feira (21), custava US$ 41,3 mil –a tonelada, portanto, valeria US$ 41,3 milhões.

Bolsonaro diz que a maior reserva de nióbio está sob terras indígenas. Ele leva às suas palestras um mapa feito pelos militares brasileiros nos anos 1970 que lista os principais recursos naturais sob o solo brasileiro. "Dentro de Roraima vocês acham tudo o que existe na tabela periódica. De A a Z. Nióbio, ouro, bauxita, diamante, tudo."

Ele se refere à reserva indígena Raposa Serra do Sol, alvo de disputas em razão de sua riqueza e pela impossibilidade de exploração por causa das demarcações.

A maior jazida inexplorada de nióbio do país, contudo, fica em outra reserva indígena e ambiental chamada de Morro dos Seis Lagos, no município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas.

Segundo o CPRM, o Serviço Geológico Brasileiro, Seis Lagos pode ter uma reserva de minerais com presença de nióbio de até 2,8 bilhões de toneladas, mas questões logísticas e de exploração no meio da selva amazônica inviabilizam comercialmente o ativo. Bolsonaro disse desconhecer a informação.

Bolsonaro ataca indígenas, mas afirma desconhecer, por exemplo, o modelo da mina de estanho Pitinga, em Presidente Figueiredo (AM). Índios da reserva Waimiri-Atroari controlam a passagem dos caminhões da mineradora.

Segundo Marcos Tune, do Instituto Brasileiro de Mineração, a Constituição de 1988, que definiu o modelo de demarcação de terras, carece até hoje de regulamentação sobre a exploração de recursos em áreas demarcadas.

Questionado se a regulamentação não seria opção ao fim das terras, Bolsonaro disse desconhecer o exemplo. "E fora que PT, PC do B, PSOL e até a Rede não iriam deixar", afirma.


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