De olho nas articulações para 2018, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), convidou um de seus maiores desafetos, Andrea Matarazzo (PSD), para um almoço de aproximação. A articulação de lado a lado pode levar o pessedista de volta à prefeitura, como secretário caso Doria deixe o cargo no ano que vem, ou a uma composição visando a eleição estadual.
O almoço, revelado pelo "Painel", ocorreu nesta quarta (3). Doria havia o abordado em um jantar recente em homenagem ao ex-senador e ex-ministro Jorge Bornhausen, sob os auspícios do "dono" do PSD, o ministro Gilberto Kassab (Comunicações).
Segundo interlocutores, no almoço em si só foram tratados projetos de Matarazzo para São Paulo, simbolizando a aproximação que vem sendo cozinhada pelo PSD e setores do PSDB. O pessedista era o candidato preferido da cúpula tucana para concorrer à prefeitura em 2016, mas acabou atropelado nas prévias por Doria. O empresário, distante da política partidária, foi lançado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) como forma de afirmar-se na disputa interna do partido e acabou eleito no primeiro turno.
Acusando o adversário de fraude nas prévias, Matarazzo acabou mudando para o PSD e uniu-se, como vice, a Marta Suplicy (PMDB) —que amargou um quarto lugar na disputa.
Como tudo em política, isso agora é um passado, ao menos temporariamente. Com a avalanche de investigações da Operação Lava Jato decorrentes da delação da Odebrecht, fora o que ainda está por vir, o PSDB se viu atingido quase tão gravemente quanto o PT.
Como indicou pesquisa Datafolha neste fim de semana, Doria emerge como um nome ainda desconhecido e em condições mais competitivas do que as de caciques tucanos como Alckmin ou o senador Aécio Neves (MG), presidente da sigla.
Doria tem baixa rejeição (16%) e poderia buscar encarnar o papel de protagonista no campo contrário ao de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seja o ex-presidente candidato ou não —o candidato hoje à direita é Jair Bolsonaro (PSC), que saltou para o segundo lugar na sondagem, mas sua anemia partidária e retórica de extrema direita dificultam prognósticos a seu favor na hora de uma campanha.
Assim, a composição especulada em São Paulo pode desembocar em dois cenários, caso Alckmin não seja mesmo candidato a presidente e Doria assuma o papel. Num, Matarazzo voltaria como um supersecretário da gestão do hoje vice-prefeito Bruno Covas (PSDB).
Em outro, poderia ser vice de David Uip, o secretário da Saúde de Alckmin que já foi defendido para o governo pela seção estadual do PSDB, embora negue ter interesse na empreitada.
Contra a segunda hipótese está a ideia de oferecer novamente uma vice para Matarazzo, que, segundo aliados, dificilmente aceitaria. Opera em favor da bruxaria toda Kassab, igualmente atingido pela Lava Jato e que precisa de uma chapa forte em São Paulo para eleger uma bancada que mantenha coesão na sigla que criou.
Para isso, poderia voltar a se aliar ao PSDB como no passado, restando como incógnita da equação o papel reservado ao PSB, que não está nada feliz com a dança tucana em curso já que pretendia lançar o vice-governador Márcio França ao Palácio dos Bandeirantes com apoio de Alckmin, em troca de apoio nacional.
Seja qual for o desfecho do namoro, a movimentação toda dá a medida de como quase todos os cenários pensados para 2018 colocam Doria como fator central. Como há um ano e meio ele mal era levado a sério, aliados do grupo contrário a Alckmin no PSDB alimentam a esperança que o nevoeiro da Lava Jato desanuvie até o começo de 2018 e a política surpreenda novamente. Mas a realidade hoje, lamentam tucanos tradicionais e comemoram os do círculo de Doria, é essa.