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Doria incorpora o discurso que eleitor quer, afirma tucano gaúcho

Ana Paula Paiva/Valor/Folhapress
Data: 25/11/2016 Editoria: Cultura Reporter: Marli Olmos Salvador Local: Casa Jereisati, Sao Paulo, SP. Setor: cultura Tags: eventos, debate, palestrantes, estrategia, gestao, empresarios, desafios. Detalhe: 9ª Edicao do Encontro de Lideres, da Comunitas. Personagem: Nelson Marchezan Junior, prefeito de Porto Alegre, fotografado durante evento. Foto: Ana Paula Paiva/Valor ***FOTO DE USO EXCLUSIVO FOLHAPRESS***
Nelson Marchezan Junior, prefeito de Porto Alegre

À frente da terceira maior cidade sob o comando do PSDB no país, o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Jr., 45, defende que o partido "modernize" seu discurso sob pena de perder conexão com as ruas.

Nessa linha, sustenta que, em 2018, o eleitor vai buscar nome com o perfil de João Doria, prefeito de São Paulo, para a Presidência. "As pessoas querem resultado. Quem consegue vender isso é o Doria."

Para ele, o partido foi "demagógico" e "errou feio" ao defender a flexibilização da reforma da Previdência.

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Folha - A lista da Odebrecht colocou a classe política em xeque. Qual será o resultado?
Nelson Marchezan Jr. - É evidente que isso atrapalha as reformas necessárias, mas não se pode escolher oportunidade da Lava Jato. Se é agora que tem prova, é agora que tem os processos.

O sr. vê erros éticos do PSDB?
Corrupção tem em tudo quanto é partido, igreja, bairro, cidade, sindicato. O problema é quando a instituição aceita e abarca a defesa da corrupção. Isso o PSDB nunca fez, o que nos diferencia do PT, por exemplo. Que cada um pague pelos seus atos, independentemente do partido.

Esse cenário e a ascensão de nomes como o sr. e João Doria no PSDB são sinais de derrocada da política tradicional?
Uma década e meia de gestão demagógica levou as pessoas ao pragmatismo. O Doria conseguiu incorporar esse discurso. Mesmo que algumas coisas não avancem, ele mostra que é possível fazer.

Essa percepção se refletirá em 2018?
Já se refletiu nessa eleição municipal. Continuaremos na mesma linha. [Em 2018,] a sociedade vai ser muito pragmática, realista, direta.

Seu partido precisa seguir essa tendência?
Ele deve se modernizar agora. Modernizar as posições, não se acovardar no Congresso. Vai ser grande frustração se a reforma da Previdência não sair porque o PSDB se acovardou.

Doria deve ser candidato a presidente?
Estamos em abril. Eleição é só em outubro de 2018. Ele é um bom nome e vai ser considerado, como Aécio [Neves], [Geraldo] Alckmin, José Serra.

A receita que o sr. prega para a gestão pública é mais próxima de Doria do que deles...
Esse discurso de gestão, transparência, é do PSDB. Às vezes, votações no Congresso estão fora dele, mas é uma marca do PSDB.

Sempre defendi que o partido tivesse posições mais coerentes e menos demagógicas. Mas ainda acho que o PSDB é o mais coerente dentro do Congresso.

O que quer dizer com "posições demagógicas"?
Previdência é o exemplo atual. O PSDB não pode ficar em cima do muro. Tem de se definir: ou quer um Brasil moderno, que faça justiça com dinheiro público, ou não.

O partido errou ao trabalhar pela flexibilização da reforma?
Errou feio. Está mais retrógrado que Lula e Dilma. Se sabem o que tem de ser feito, por que não fazer? Todo político vive da opinião pública. Têm medo de não se comunicar bem e falhar nas eleições.

Seis meses são suficientes para municípios aprovarem seus ajustes na Previdência?
Essa proposta é covarde. Que diferença é essa entre cidadão de classe D e o "top de linha", que é o servidor público? E essa diferenciação entre servidor federal, estadual e municipal? É patético, irracional.

A comparação com Doria o incomoda?
De jeito nenhum. O discurso dele é muito saudável para o Brasil. As pessoas querem isso: que faça acontecer.

Em que diferem?
Ele pode ser presidente da República, e eu não [risos].

Em 2018, será o perfil buscado?
Hoje, esse é o cenário. Você sai na rua e as pessoas são pragmáticas, querem resultado. Quem consegue vender isso é o Doria, pela capacidade de comunicação dele e pelas ações.


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