Em depoimento ao Ministério Público Federal, Emilio Odebrecht afirmou que, depois de cobrar Luiz Inácio Lula da Silva em 2001, o petista assegurou que não tomaria ações em direção à estatização do setor petroquímico caso chegasse ao Planalto.
"Em um determinado momento eu me posicionei: 'Chefe, gostaria de ver se temos um alinhamento pleno com referência a esse negócio da petroquímica'. Ele foi muito enfático: 'Você me conhece, não precisava nem fazer essa pergunta que eu não sou de estatizar."
A conversa aconteceu quando Lula já se colocava como candidato à sucessão de Fernando Henrique Cardoso no Planalto. Ele acabou vitorioso na disputa do ano seguinte.
O depoimento foi prestado por Emilio em dezembro de 2016, no âmbito da Operação Lava Jato. As falas foram remetidas pelo ministro relator Edson Fachin a instâncias inferiores.
Em sua fala, Emilio diz ter relatado ao petista que a posição era "fundamental" para a empresa, que tinha interesse em investir no setor.
"Eu vou na sua confiança, mas sua estrutura não é assim que pensa", relatou Emilio. "Quem manda sou eu", teria respondido Lula.
Emilio relata, então, ter dito a diretores da Odebrecht que, se houvesse um "revertério" na posição de Lula, a organização não daria "um tostão de ajuda" financeira a Lula. "Institucionalmente eu não dou nada ao candidato", disse ter ameaçado.
INVESTIGAÇÃO
O ministro Edson Fachin determinou a abertura de inquérito contra oito ministros do governo Michel Temer (PMDB), 24 senadores e 39 deputados federais. Serão abertas 76 investigações pedidas pela Procuradoria-Geral da República após as delações da Odebrecht.
Entre os citados estão os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB). Dois dos principais aliados de Temer, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secreraria-Geral), também estão na lista, que abrange ainda os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros, do PMDB, e Aécio Neves (PSDB).
No total a relação tem 98 nomes e inclui três governadores e um ministro do Tribunal de Contas da União. Algumas suspeitas da Procuradoria são corrupção, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, fraude e cartel. Fachin remeteu 201 outros casos a tribunais de instâncias inferiores envolvendo citados sem foro no Supremo –entre os mencionados estão os ex-presidentes Lula, Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso.
Os inquéritos iniciam longo trâmite. Investigarão o teor das delações, que precisarão de provas adicionais para tornar-se efetivas. Ainda há as fases de denúncia e do processo, com ampla defesa, antes do julgamento.