Folha de S. Paulo


Lula prometeu a Odebrecht não alterar setor petroquímico, diz delator

Jorge Araujo/Folhapress
O ex-presidente Lula na sede do PT em São Bernardo do Campo
O ex-presidente Lula na sede do PT em São Bernardo do Campo

Em depoimento ao Ministério Público Federal, Emilio Odebrecht afirmou que, depois de cobrar Luiz Inácio Lula da Silva em 2001, o petista assegurou que não tomaria ações em direção à estatização do setor petroquímico caso chegasse ao Planalto.

"Em um determinado momento eu me posicionei: 'Chefe, gostaria de ver se temos um alinhamento pleno com referência a esse negócio da petroquímica'. Ele foi muito enfático: 'Você me conhece, não precisava nem fazer essa pergunta que eu não sou de estatizar."

A conversa aconteceu quando Lula já se colocava como candidato à sucessão de Fernando Henrique Cardoso no Planalto. Ele acabou vitorioso na disputa do ano seguinte.

O depoimento foi prestado por Emilio em dezembro de 2016, no âmbito da Operação Lava Jato. As falas foram remetidas pelo ministro relator Edson Fachin a instâncias inferiores.

Em sua fala, Emilio diz ter relatado ao petista que a posição era "fundamental" para a empresa, que tinha interesse em investir no setor.

"Eu vou na sua confiança, mas sua estrutura não é assim que pensa", relatou Emilio. "Quem manda sou eu", teria respondido Lula.

Emilio relata, então, ter dito a diretores da Odebrecht que, se houvesse um "revertério" na posição de Lula, a organização não daria "um tostão de ajuda" financeira a Lula. "Institucionalmente eu não dou nada ao candidato", disse ter ameaçado.

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INVESTIGAÇÃO

O ministro Edson Fachin determinou a abertura de inquérito contra oito ministros do governo Michel Temer (PMDB), 24 senadores e 39 deputados federais. Serão abertas 76 investigações pedidas pela Procuradoria-Geral da República após as delações da Odebrecht.

Operação Lava Jato

Entre os citados estão os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB). Dois dos principais aliados de Temer, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secreraria-Geral), também estão na lista, que abrange ainda os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros, do PMDB, e Aécio Neves (PSDB).

No total a relação tem 98 nomes e inclui três governadores e um ministro do Tribunal de Contas da União. Algumas suspeitas da Procuradoria são corrupção, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, fraude e cartel. Fachin remeteu 201 outros casos a tribunais de instâncias inferiores envolvendo citados sem foro no Supremo –entre os mencionados estão os ex-presidentes Lula, Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso.

Os inquéritos iniciam longo trâmite. Investigarão o teor das delações, que precisarão de provas adicionais para tornar-se efetivas. Ainda há as fases de denúncia e do processo, com ampla defesa, antes do julgamento.

Chamada - A lista de Fachin

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