Folha de S. Paulo


Alckmin vê cunhado citado em delação da Odebrecht como aliado fiel

Quatro dias antes de ter seu nome divulgado nas delações da Odebrecht, sob acusação de receber "pessoalmente" parte dos R$ 10,7 milhões que a empreiteira teria dado a seu cunhado Geraldo Alckmin, Adhemar César Ribeiro foi marcado no Facebook. Era a foto de uma mulher sorridente jogando papéis para o alto.

"Não há mau humor e estresse que resistam à magia da sexta no final do expediente!", dizia a legenda de um anúncio da Youw, recém-aberta empresa de sua família, com escritórios compartilhados na paulistana av. Brigadeiro Faria Lima.

A semana começou pouco mágica para Adhemar, um dos 11 irmãos da primeira-dama paulista, Lu Alckmin, que nas redes sociais exalta ter nascido "numa família numerosa e unida". Em dezembro, a Folha adiantou que o cunhado do governador compartilhou um escritório seu para a entrega de recursos, segundo os termos da delação agora tornada pública.

Bruno Poletti/Folhapress
SAO PAULO, SP, 21.03.2017: Geraldo Alckmin e Lu Alckmin - Jantar em homenagem a Joao Doria, na casa de Lucilia Diniz. (Foto: Bruno Poletti/Folhapress, FSP-MONICA BERGAMO) ***EXCLUSIVO FOLHA***
Geraldo e Lu Alckmin em jantar em homenagem a João Doria

Ele é braço-direito do governador há mais de uma década. Em 2006, com sua ajuda, o comando da campanha presidencial do tucano montou um gabinete para o comitê financeiro. Após a derrota para Lula (PT), por um período o tucano usou o espaço de uma das empresas do cunhado, na avenida Nove de Julho.

A reportagem conversou com três aliados de Alckmin que tiveram contato com Adhemar em campanhas prévias. O trio descreve a relação dos cunhados como "íntima" e "discreta". Em 2010, quando o tucano concorreu ao governo de SP, "só tratava dessas coisas [dinheiro] com o Adhemar", diz um correligionário.

O cunhado é visto como um "um aliado fiel", que só faria algo com autorização expressa do marido da irmã.

Não é a primeira vez que Adhemar é associado a um esquema de corrupção. Ele sequer é o único irmão de dona Lu com imbróglios legais.

Em 2011, a coluna "Painel" publicou a nota "Os Cunhados": "Entre as encrencas a envolver os irmãos da primeira-dama, a que mais aborreceu Alckmin foi a protagonizada por Adhemar. Ao contrário de Paulo Ribeiro, investigado na máfia da merenda em Pindamonhangaba e de quem o governador nunca foi próximo, Adhemar sempre desfrutou da confiança do tucano".

Naquele ano, a Corregedoria-Geral da Prefeitura de São Paulo reabriu investigação já arquivada na gestão Marta Suplicy (PT). Alvo: Wall Street, empresa da qual ele era procurador, e sua esposa e filhos, sócios. Suspeita: falsificação de papéis que teria fraudado o município em R$ 4 milhões.

Na época, Adhemar reclamou de perseguição por ter ajudado seu cunhado a arrecadar dinheiro na eleição de 2008. O racha entre Gilberto Kassab, que acabou virando prefeito, e Alckmin (terceiro lugar) monopolizava o noticiário. Adhemar também se queixou de ter um prédio lacrado pela Prefeitura de Kassab.

Outro endereço de Adhemar virou notícia em 2016. Aos 75 anos, o empresário foi alvo de uma quadrilha especializada em invasões de casas de luxo. Segundo o Boletim de Ocorrência, ele dormia em sua mansão no Morumbi quando bandidos encapuzados arrombaram a porta de seu quarto.

"Ao sentar na cama, o sr. Adhemar foi agredido com um soco no peito, e ao levantar, com um soco no estômago. Colocaram uma arma em sua cabeça." Levaram-lhe dois cofres com joias, relógios, dinheiro e um revólver calibre 38.

É nesta casa que ele mora com a esposa, Maria Paula Abreu, filha de Paulo Abreu (1912-1991) -senador nos anos 1950 que dá nome ao edifício do Banco das Nações, que fundou em São Paulo.

Adhemar é o atual presidente-executivo do Grupo Nações, segundo o site da companhia, que atua em investimentos imobiliários (Wall Street Empreendimentos), estacionamento (Ceasa Park), agropecuária, construção, seguros e aeronáutica.

É nesta casa que ele esperava uma visita do governador na noite de terça, após a divulgação das delações, como contou, por telefone, um de seus empregados. A Folha questionou a assessoria de imprensa do tucano sobre o encontro (sem resposta) e sobre eventuais participações de seu cunhado em campanhas.

Adhemar "nunca teve papel" nelas."Foi, sim, um apoiador, como centenas de outros. É empresário, com vida bem sucedida no mundo dos negócios, e nunca manteve nenhuma relação com o governo do Estado de São Paulo durante os mandatos do governador", diz a equipe de Alckmin.

O empresário foi procurado em casa e no escritório várias vezes ao longo de quarta. Não respondeu nenhum recado.


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