Folha de S. Paulo


'Seu pessoal está com a goela muito aberta', disse Emilio Odebrecht a Lula

Em um dos anexos que ofereceu por escrito para firmar sua delação premiada, o patriarca do Grupo Odebrecht, Emilio Odebrecht, relatou ter dito a Lula que o "pessoal dele estava com a 'goela muito grande'".

"Estavam passando de 'jacaré para crocodilo'", escreve.

Emílio Odebrecht depõe sobre a relação com Lula

Emilio fez as declarações por escrito, antes de depor ao Ministério Público. No texto, ele relata como funcionavam as negociações sobre doações de campanha ao ex-presidente e ao PT. Ele não detalha quando o episódio teria acontecido.

"O pedido de ajuda era de fato feito por ele, diretamente a mim, mas combinávamos sempre de designar um representante de cada lado para negociar os valores e combinar os detalhes", escreve Emilio.

No vídeo ele retoma: "Aí houve aquela colocação de jacaré e crocodilo, dizendo que no fundo um estava querendo minimizar e outro maximizar e que era importante eu dar o puxão de orelha no meu pessoal e ele dar o puxão de orelha".

Nelson Antoine/Agif/Folhapress
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de evento promovido pelo PT
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de evento promovido pelo PT

Inicialmente, Lula indicou Palocci e Emilio, Pedro Novis – então diretor presidente da empresa – e, depois, o filho Marcelo, quando assumiu a presidência da companhia em 2009.

Ele relata que chegou a interpelar o ex-presidente quando houve dúvidas sobre os valores acertados. "Presidente, seu pessoal quer receber o máximo possível, e meu pessoal quer pagar o mínimo necessário."

Em outro trecho, Emilio diz que – apesar de não conhecer detalhes – sabia que parte dos pagamentos se deu "com recursos de caixa dois". Minha estimativa é que tenhamos pagado ao PT e a Lula em atendimento a solicitações feitas a pretexto de campanha o montante em torno de R$ 20 milhões por campanha."

OUTRO LADO

Em nota, o Instituto Lula informou que o ex-presidente nunca pediu valor indevido à Odebrecht nem "a qualquer outra pessoa". "Lula não tem nenhuma relação com qualquer planilha na qual outros possam se referir a ele como 'Amigo'", diz.

INVESTIGAÇÃO

O ministro Edson Fachin determinou a abertura de inquérito contra oito ministros do governo Michel Temer (PMDB), 24 senadores e 39 deputados federais. Serão abertas 76 investigações pedidas pela Procuradoria-Geral da República após as delações da Odebrecht.

Operação Lava Jato

Entre os citados estão os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB). Dois dos principais aliados de Temer, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secreraria-Geral), também estão na lista, que abrange ainda os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros, do PMDB, e Aécio Neves (PSDB).

No total a relação tem 98 nomes e inclui três governadores e um ministro do Tribunal de Contas da União. Algumas suspeitas da Procuradoria são corrupção, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, fraude e cartel. Fachin remeteu 201 outros casos a tribunais de instâncias inferiores envolvendo citados sem foro no Supremo –entre os mencionados estão os ex-presidentes Lula, Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso.

Os inquéritos iniciam longo trâmite. Investigarão o teor das delações, que precisarão de provas adicionais para tornar-se efetivas. Ainda há as fases de denúncia e do processo, com ampla defesa, antes do julgamento.

Chamada - A lista de Fachin

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