Folha de S. Paulo


Odebrecht diz que 'trocou' R$ 120 mi por dólares com cervejaria

Ex-executivos da Odebrecht disseram ao Ministério Público Eleitoral que, desde 2006, a empresa "trocou" com o grupo Petrópolis R$ 120 milhões por dólares para que a companhia fizesse doações no Brasil em troca da "disponibilização de moeda estrangeira no exterior".

Os depoimentos de cinco executivos –entre eles Benedicto Júnior e Hilberto Mascarenhas– foram encaminhados pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato do STF (Supremo Tribunal Federal), à Justiça no Paraná.

Segundo depoimentos de antigos diretores da Odebrecht, o grupo Petrópolis, responsável pela cervejaria Itaipava, do Rio, serviu como laranja para esconder milhões de reais destinados pela empreiteira como doações em eleições anteriores.

Pedro Ladeira-6.mar.2017/Folhapress
Hilberto Mascarenhas chega ao TSE, em Brasília, para ser ouvido na ação que investiga a chapa Dilma-Temer
Hilberto Mascarenhas chega ao TSE, em Brasília, para ser ouvido na ação que investiga a chapa Dilma-Temer

As operações, segundo os cinco delatores, ocorreram em quatro eleições: 2008, 2010, 2012 e 2014. O dinheiro repassado pela cervejaria a políticos no Brasil era devolvido pela Odebrecht no exterior.

Além da estratégia para mascarar a doação, a Odebrecht utilizou a cervejaria para gerar fluxo para seu Departamento de Operações Estruturadas, setor que contabilizava pagamentos de propina.

A empreiteira adquiria notas em reais da cervejaria, que tinha grande quantidade de moeda no Brasil devido aos bares e pequenos pontos de venda espalhados pelo país. O reembolso ao grupo era feito em contas no exterior.

Aponta o ministro Edson Fachin que, segundo os delatores, a "parceria" foi firmada no final de 2006, quando "os colaboradores Luiz Eduardo da Rocha Soares e Olívio Rodrigues Júnior foram apresentados a Silvio Pelegrini e Vanuê Ferreira, representantes do Grupo Petrópolis".

O que é o caixa 2?

INVESTIGAÇÃO

O ministro Edson Fachin determinou a abertura de inquérito contra oito ministros do governo Michel Temer (PMDB), 24 senadores e 39 deputados federais. Serão abertas 76 investigações pedidas pela Procuradoria-Geral da República após as delações da Odebrecht.

Entre os citados estão os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB). Dois dos principais aliados de Temer, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secreraria-Geral), também estão na lista, que abrange ainda os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros, do PMDB, e Aécio Neves (PSDB).

No total a relação tem 98 nomes e inclui três governadores e um ministro do Tribunal de Contas da União. Algumas suspeitas da Procuradoria são corrupção, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, fraude e cartel. Fachin remeteu 201 outros casos a tribunais de instâncias inferiores envolvendo citados sem foro no Supremo –entre os mencionados estão os ex-presidentes Lula, Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso.

Os inquéritos iniciam longo trâmite. Investigarão o teor das delações, que precisarão de provas adicionais para tornar-se efetivas. Ainda há as fases de denúncia e do processo, com ampla defesa, antes do julgamento.

OUTRO LADO

Em nota enviada por sua assessoria de imprensa, o Grupo Petrópolis diz que suas relações com a Odebrecht "sempre foram profissionais".

"A Odebecht construiu as fábricas da empresa. Todas as transações financeiras foram declaradas e todas as doações de campanha feitas pelo Grupo Petrópolis seguiram estritamente a legislação eleitoral e estão devidamente registradas", afirmou o conglomerado.

Chamada - A lista de Fachin

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