Folha de S. Paulo


Executivo emprestou conta para ex-gerente da Petrobras receber propina

Geraldo Bubniak/AGB/Folhapress
Roberto Gonçalves, detido nesta terça, em sua primeira prisão na Lava Jato, em novembro de 2015
Roberto Gonçalves, detido nesta terça, em sua primeira prisão na Lava Jato, em novembro de 2015

Executivo de uma das empreiteiras que pagou propina ao ex-gerente da Petrobras Roberto Gonçalves, preso nesta terça (28), Rogério Araújo, da Odebrecht, orientou o servidor da estatal sobre como receber as vantagens indevidas e chegou a emprestar uma conta a ele.

"Eu cometi um desatino, né. Abri uma conta em meu nome e dei para ele, para ele usar essa conta. Não deixei de ser, desculpa o termo, um 'laranja' dele", declarou Araújo, um dos delatores da Odebrecht, em depoimento prestado ao Ministério Público Federal.

Ele recebeu cerca de R$ 2,2 milhões nessa conta, segundo Araújo. O dinheiro, que não foi movimentado, acabou sendo restituído no acordo de delação da Odebrecht.

O executivo afirmou que Gonçalves, que sucedeu Pedro Barusco na gerência da diretoria de Serviços da Petrobras, era novato no recebimento de propinas -ao contrário de outros executivos, que já estavam "em velocidade de cruzeiro".

"Eu tinha preocupação porque era o primeiro negócio de vantagem indevida que a gente estava fazendo com ele. Era diferente do Barusco, do Paulo Roberto Costa [ex-diretor da Petrobras], que já estavam, vamos dizer, em velocidade de cruzeiro, em linha de produção."

A Odebrecht resolveu pagar a Gonçalves R$ 5 milhões para viabilizar uma contratação direta da empreiteira, sem licitação, para uma obra do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro).

A ideia era "melhorar o relacionamento" e "ter uma aproximação maior" com o novo gerente executivo, segundo Araújo. Em troca, Gonçalves concedia informações sobre futuras contratações na Petrobras e eventualmente intercedia em favor da empreiteira na estatal.

Para receber a propina, Gonçalves abriu uma conta na Suíça, por orientação de Araújo.

Mais adiante, porém, por causa de "dificuldades" no recebimento da propina, por ser uma pessoa politicamente exposta, segundo teria relatado a Araújo, o ex-gerente acabou emprestando a conta do executivo da Odebrecht, para pagamento de propina por outras empresas.

OUTRO LADO

O advogado de Roberto Gonçalves, James Walker Júnior, afirmou que seu cliente nunca foi apadrinhado de nenhum político ou partido na Petrobras.

Segundo ele, Gonçalves era funcionário de carreira da estatal e que todos os cargos que ocupou na empresa foi devido ao seu esforço pessoal e à sua condição de "engenheiro com formação no exterior".

Ele afirmou que foi surpreendido com a decisão da prisão e que seu cliente se encontrava visitando parentes de sua mulher, em Roraima.

O advogado não quis comentar as informações específicas divulgadas pela força tarefa da Lava Jato, por não ter tido ainda acesso as peças no processo que justificaram o pedido de prisão.

O advogado embarca amanhã de manhã para Curitiba. Já Gonçalves, disse, deve ser transferido ou nesta terça ou quarta de Roraima para Curitiba.

Colaborou LUCAS VETTORAZZO, do Rio


Endereço da página:

Links no texto: