Folha de S. Paulo


Justiça aceita denúncia e Cabral vira réu pela sexta vez

Alessandro Buzas - 21.fev.2017/Futura Press/Folhapress
O ex-governador Sérgio Cabral participa de audiência no Tribunal de Justiça do Rio
O ex-governador Sérgio Cabral participa de audiência no Tribunal de Justiça do Rio

A Justiça Federal do Rio aceitou a sexta denúncia contra o ex-governador do Rio Sérgio Cabral no escopo da operação Lava Jato.

Na tarde desta quarta-feira (8), o Ministério Público apresentou denúncia contra o governador, aceita pelo juiz da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, Marcelo Bretas. Ao todo, Cabral é réu em cinco processos no Rio e um em Curitiba.

Outras oito pessoas tiveram denúncia aceita nesta quarta-feira (8), inclusive o doleiro Vinícius Claret, conhecido como Juca Bala, preso na semana passada no Urugua, acusado de ser um dos operadores do suposto esquema do ex-governador.

Cabral foi denunciado por 25 crimes de evasão de divisas, 30 crimes de lavagem de dinheiro e nove crimes de corrupção passiva.

Além de Cabral e Juca Bala, tornaram-se réus o operador Carlos Miranda, o ex-secretário de Governo de Cabral Wilson Carlos, Sérgio Carlos de Oliveira, o Serjão, que foi assessor do ex-governador, o doleiro Claudio de Souza e o operador Timothy Scorah Lynn. Eles são acusados de crimes de evasão de divisas, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.

Os irmãos Marcelo e Renato Chebar, delatores que fecharam acordo de colaboração premiada, também foram denunciados.

O ex-governador está preso desde o fim do ano passado, em razão da operação Calicute, que é um desdobramento da Lava Jato no Rio.

Cabral é acusado de receber US$ 3 milhões da Odebrecht no exterior. Segundo a Procuradoria, o ex-governador e sua suposta organização ocultaram e lavaram R$ 39,757 milhões movimentados no Brasil, além de US$ 100 milhões em depósitos no exterior.

"Narra o MPF que, a partir da análise do material colhido em virtude da Operação Calicute, foi possível identificar novos elementos de prova das ramificações da organização criminosa liderada pelo ex-governador Sérgio Cabral", escreve em sua decisão o juiz Marcelo Bretas.

"Verifico, ainda, estarem minimamente delineadas a autoria e a materialidade dos crimes que, em tese, teriam sido cometidos pelos acusados, o que se afere do teor da documentação que instrui a exordial, razão pela qual considero haver justa causa para o prosseguimento da ação penal".

As investigações apontam também que outros 1,214 milhões de euros em diamantes teriam sido ocultados em um cofre no exterior. Outros diamantes também ocultados no exterior foram avaliados em US$ 1,054 milhões.

Os procuradores identificaram quatro quilos e meio de ouro, ocultados em cofres no exterior, no valor de US$ 247,9 milhões. Segundo cálculos do MPF, o esquema de envio de divisas ilegais ao exterior somou R$ 318,5 milhões.

"As investigações comprovaram que Sérgio Cabral, no comando da organização criminosa, Wilson Carlos, Carlos Miranda, Sérgio Castro de Oliveira (Serjão/Big), Vinícius Claret (Juca Bala), Claudio de Souza ("Tony/Peter") e os colaboradores promoveram, sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior, através de operações 'dólar-cabo'", afirma MPF em nota.

O dólar-cabo é uma forma de enviar recursos ilegais no exterior. Em geral, o cliente deposita uma quantia no país a um doleiro, que disponibiliza os valores corrigidos em contas no exterior.

De acordo com a Procuradoria, os investigadores identificaram que Cabral, Wilson Carlos, Miranda e os colaboradores mantiveram depósitos clandestinos no exterior de quatro formas distintas: depósitos em nome de terceiros, pagamentos de joias no exterior, compra de ouro e diamantes e transferências bancárias a parentes de Miranda. Juca Bala e Claudio Souza eram os responsáveis pelas remessas ao exterior. Todos os envolvidos estão presos.

Ainda segundo o Ministério Público, já foi possível repatriar US$ 85,3 milhões, provenientes de contas de bancos no exterior. Os recursos estão em contas judiciais da Caixa Econômica Federal.

A reportagem não conseguiu contato com as defesas dos acusados.


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