Folha de S. Paulo


Moro condena Delúbio e mais quatro por lavagem de dinheiro

Sérgio Lima - 21.jan.2014/Folhapress
BRASÍLIA, DF, BRASIL, 21-01-2014: ***ATENÇÃO EDITORES, CORREÇÃO DO TRAX*** Delubio Soares ex-tesoureiro do PT deixa o Centro de Progresso de Pena (CPP) onde cumpre pena em regime semiaberto, para ir ao seu segundo dia de trabalho na CUT Nacional, em Brasília. (Foto: Sérgio Lima/Folhapress, PODER) ***EXCLUSIVA***
Delúbio Soares, que cumpre regime semiaberto, deixa o Centro de Progresso de Pena (CPP)

Mais um ex-tesoureiro do PT foi condenado nesta quinta (2), em uma ação da Operação Lava Jato: desta vez, foi Delúbio Soares, que já havia sido condenado no processo do mensalão.

A sentença foi dada nesta quinta (2) pelo juiz Sergio Moro. A pena é de cinco anos de prisão –uma das mais baixas aplicadas pelo magistrado até aqui.

O ex-tesoureiro era acusado de lavagem de dinheiro, por ter solicitado, segundo o Ministério Público Federal, um empréstimo fraudulento de R$ 12 milhões em favor do PT, em 2004.

O financiamento foi obtido no banco Schahin pelo pecuarista José Carlos Bumlai (já condenado em outra ação), e parte dos recursos –R$ 6 milhões– foi repassada ao empresário Ronan Maria Pinto, dono do jornal "Diário do Grande ABC".

Os investigadores do caso suspeitam que o motivo da extorsão tenha sido a compra do silêncio sobre o caso Celso Daniel, prefeito petista de Santo André (SP) assassinado em 2002.

O publicitário Marcos Valério, pivô do escândalo do mensalão, chegou a mencionar durante a ação que o então presidente Lula estava sendo chantageado na época, sem revelar o motivo. As suspeitas, porém, não foram incluídas na denúncia.

Moro considerou que a maioria dos depoimentos, inclusive do próprio Bumlai, que admitiu a fraude, foi "convergente" e que há "robusta prova documental" do destino do empréstimo.

O juiz ainda destacou a similaridade do "modus operandi" entre essa operação e o mensalão.

"Segue-se o mesmo modus operandi da concessão de empréstimo fraudulento, a pessoa interposta, por instituição financeira, no interesse de agentes do Partido dos Trabalhadores, e com posterior direcionamento, com ocultação e dissimulação, a terceiros", escreveu.

Além de Delúbio, também foram condenados por lavagem de dinheiro o empresário Ronan Maria Pinto, a quem se destinou o empréstimo; Enivaldo Quadrado e Luiz Carlos Casante, responsáveis por estruturar as operações de ocultação do dinheiro; e o empresário do ramo frigorífico Natalino Bertin, que cedeu as contas da empresa para intermediar os repasses de Bumlai para Ronan Maria Pinto.

Todos receberam penas de aproximadamente cinco anos, à exceção de Natalino Bertin -Moro o condenou a quatro anos. Em função disso, a pena para o empresário acabou prescrita.

O publicitário Marcos Valério, pivô do escândalo do mensalão, e outras três pessoas (Oswaldo Rodrigues Vieira Filho, Sandro Tordin e Breno Altman) foram absolvidos por falta de provas.

Altman havia sido denunciado sob a suspeita de ser um intermediário de Ronan Maria Pinto e de ter ajudado na montagem da operação considerada fraudulenta.

Ainda cabe recurso da decisão.

OUTRO LADO

O advogado de Delúbio Soares, Pedro Paulo de Medeiros, afirmou à Folha que irá recorrer da sentença e que está "confiante na Justiça brasileira".

Para ele, a pena foi "altíssima" para o crime de lavagem de dinheiro, cuja punição mínima é de dois anos de prisão. "Ele [Moro] só fez isso para evitar a prescrição. Não tenho dúvidas de que os tribunais superiores vão reformar a pena", afirmou Medeiros.

O ex-tesoureiro nega que tenha solicitado qualquer empréstimo e disse ao juiz que, se precisasse do dinheiro, o PT faria o pedido em nome próprio.

Ronan Maria Pinto afirmou ao juízo que o empréstimo foi tomado por iniciativa própria, para saldar dívidas da sua empresa de transporte. "Não tem nada a ver com o PT; eu nem tenho essa relação direta com o partido."

Os advogados de Natalino Bertin argumentaram que o empresário não tinha conhecimento do uso de suas contas bancárias para a intermediação do empréstimo, e que mantinha "uma relação de confiança" com Bumlai.

As defesas de Enivaldo Quadrado e Luiz Carlos Casante disseram que ambos desconheciam que havia um crime de ocultação, e afirmaram que não agiram com dolo ao realizar a operação.


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