Folha de S. Paulo


Desde delação, Marcelo Odebrecht enfrenta mágoa de antigos colegas

Rodrigo Félix Leal - 1º.set.2015/Futura Press/Folhapress
Marcelo Odebrecht, em depoimento na CPI da Petrobras, na sede da Justiça Federal, em Curitiba (PR)
Marcelo Odebrecht, em depoimento na CPI da Petrobras, na sede da Justiça Federal, em Curitiba (PR)

Desde que firmou acordo de delação premiada, Marcelo Odebrecht, preso em Curitiba, tornou-se alvo de mágoa da maioria dos 77 delatores da empresa que presidiu.

O herdeiro do grupo baiano vive uma espécie de isolamento. Segundo a Folha apurou, muitos dos demais delatores atribuem a Marcelo a inclusão de seus nomes na Lava Jato.

Em conversas reservadas, executivos e ex-executivos alegam que somente cumpriam ordens dele sobre decisões envolvendo pagamentos de vantagens a políticos.

Em entrevistas a procuradores da Lava Jato na negociação da delação, o herdeiro da Odebrecht, no entanto, dividiu a autoria desses atos com subordinados.

O cenário prejudicou o processo de sucessão de postos de liderança do grupo. Marcelo arrastou para o acordo de delação executivos que vinham sendo preparados para assumir posições de destaque no futuro.

Entre eles estão Fernando Reis, ex-presidente da Odebrecht Ambiental, Paulo Cesena, ex-presidente da Odebrecht Transport, Ernesto Baiardi, diretor em Angola, e Carlos Fadigas, ex-presidente da Braskem.

Com carreiras interrompidas e reclusão de até um ano, os executivos não escondem de interlocutores a insatisfação com o herdeiro, que pegou pena de dez anos, sendo dois e meio em regime fechado.

Funcionários que foram alvos de operação e chegaram a ser presos, como Márcio Faria, ex-diretor da construtora, e Benedicto Júnior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, também colocam na conta de Marcelo o tamanho das penas que levaram.

ABANDONAR O BARCO

A pessoas próximas eles costumam dizer que o capitão do navio, numa alusão a Marcelo, teria que ser o último a abandonar o barco, mas foi um dos primeiros.

A versão de Marcelo Odebrecht é diferente. Nas tratativas do acordo, repetia que assumiria os atos que praticou, mas que cada um teria que responder pelo que fez.

Faria e Júnior, por exemplo, relataram casos de pagamento ilícito feitos antes de Marcelo assumir a presidência do grupo, em 2009.

Cezena, Reis, Fadigas e Baiardi fazem parte dos 26 funcionários mantidos no grupo, apesar de terem funções reduzidas devido aos acordos que assinaram com o Ministério Público Federal.

Faria e Júnior são parte dos 51 executivos que foram ou serão demitidos do grupo. O número de empregados que teriam que ser desligados foi negociado com os procuradores na delação.

O grupo vai pagar as multas impostas aos delatores, de mais de R$ 500 milhões, conforme a Folha revelou.

A Folha apurou que pelo menos dez executivos da Odebrecht que antes integrariam o acordo de leniência (delação da pessoa jurídica) tiveram que se tornar delatores por imposição do MPF devido às revelações de Marcelo.

A situação considerada mais delicada é a do pai dele, Emílio, sócio majoritário do grupo. Marcelo falou aos procuradores que assuntos tratados com o ex-presidente Lula tinham que ser perguntados ao pai. A relação de pai e filho se desgastou no processo.


Endereço da página:

Links no texto: