Folha de S. Paulo


Período da propina coincide com o do crescimento da EBX no Rio

Divulgação/Governo do RJ
Eike, cercado por Sérgio Cabral e sua mulher, Adriana Ancelmo, em lançamento de livro em 2011
Eike, cercado por Sérgio Cabral e sua mulher, Adriana Ancelmo, em lançamento de livro em 2011

O período em que vigorou o esquema de propina paga no exterior para o então governador do Rio, Sérgio Cabral, entre 2007 e 2010, coincidiu também com a consolidação do grupo EBX, de Eike Batista.

De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal que motivou o pedido de prisão de Eike, o esquema de propina desviou até US$ 100 milhões ao exterior. Somente Eike teria depositado a título de propina US$ 16,5 milhões em operações cujo destino seria Cabral.

Os procuradores não detalharam para qual projeto a propina seria destinada, mas foi justamente no período em que ficou evidente o relacionamento de Eike com políticos brasileiros e, consequentemente, o sucesso de suas iniciativas junto ao governo do Rio.

O Porto do Açu, em São João da Barra, norte do Estado do Rio, é um exemplo. A área foi desapropriada pelo Estado, que justificava que ali seria criado um distrito industrial, local que recebe incentivos fiscais do governo com o intuito de se transformar em polo de atração de indústrias.

As desapropriações foram cercadas de polêmica e alvo de investigação, em 2010, do Ministério Público Federal, que identificou que houve a retirada de famílias sem ordem judicial e, em alguns casos, sem o pagamento das indenizações devidas.

A Procuradoria apurou denúncias de que milícias foram contratadas para expulsar e coagir moradores de 800 famílias a deixarem o local.

Mais adiante, Eike compraria o terreno. Em 2010, começariam as obras físicas do quebra-mar.

Em 2012, Eike disse em entrevista à Folha que "alguém vai ter que fazer uma estátua para mim". Seria uma forma de agradecimento ao empresário pelos investimentos em infraestrutura em andamento.

DE CARONA

A Folha mostrou no início de janeiro que Cabral e sua mulher, a advogada Adriana Ancelmo, ambos presos no fim do ano passado, fizeram pelo menos 13 viagens no jatinho particular de Eike.

Entre 2007 e 2010, as empresas do empresário receberam, só do Estado do Rio, cerca de R$ 79,2 milhões em incentivos fiscais, segundo reportagem do jornal "O Globo". Os benefícios iriam desde os restaurantes e empreendimentos turísticos do empresário, como o barco Pink Fleet, que fazia passeios e eventos pela baía de Guanabara, até as empresas industriais, como a petroleira OGX e a de logística, LLX.

O primeiro óleo da petroleira ocorreu em 2012. A ajuda de Cabral veio dois anos antes, quando o governo do Rio concedeu incentivos fiscais de R$ 55,8 milhões à empresa de Eike.

À época, o grupo EBX afirmou que recebeu benefícios que eram dispensados a "qualquer outra empresa". A reportagem solicitou os dados de incentivos à Secretaria da Fazenda, que não disponibilizou a informação.

Em 2011, reportagem da Folha mostrou que Eike havia doado R$ 139 milhões ao governo do Rio desde 2009.

Entre os investimentos estava a doação R$ 20 milhões anuais ao projeto das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e de R$ 23 milhões para a despoluição da lagoa Rodrigo de Freitas.

Houve ainda a doação, de cerca de R$ 20 milhões, para a candidatura do Rio à sede da Olimpíada. Eike deu carona em seu jato particular a Cabral e o então prefeito do Rio, Eduardo Paes, para a cerimônia da escolha do local dos Jogos em Copenhague, na Dinamarca, em 2009.


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