Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Teori ficou sob holofotes, mas a notícia eram suas decisões

Pedro Ladeira/Folhapress
O ministro do STF Teori Zavascki, relator da Lava Jato na corte, que estava no avião que caiu em Paraty
O ministro do STF Teori Zavascki, relator da Lava Jato na corte, que estava no avião que caiu em Paraty

Mesmo tendo ingressado no STF em 2012, após longo percurso no Superior Tribunal de Justiça, não há como dissociar a imagem de Teori Zavascki dos casos relacionados à Operação Lava Jato.

Foi como ministro relator de uma série de inquéritos e ações penais envolvendo parlamentares e altas autoridades públicas que Teori ficou conhecido e ocupou, quase diariamente, as principais manchetes dos jornais.

Ficou sob holofotes, mas a notícia eram as suas decisões.

Pudera, que decisões! No âmbito da Lava Jato, Teori concedeu liminares inéditas que reconfiguraram as relações entre Legislativo e Judiciário. O que antes era deferência e respeito a questões interna corporis, com Teori se transformou em escrutínio e cobrança, em clara agenda de moralização da política.

Como exemplo, na cautelar de prisão em flagrante do então senador Delcídio do Amaral, a interpretação de Teori para estabelecer o flagrante e a inafiançabilidade, seguida pelos demais ministros, criou novo entendimento sobre as prerrogativas de parlamentares no país.

A mais polêmica, entretanto, foi a que suspendeu o exercício do mandato do então deputado federal Eduardo Cunha, afastando-o da presidência da Câmara dos Deputados, logo após ter aprovado o impeachment.

De novo, o uso de função pública em benefício próprio foi considerado inaceitável.

A decisão criou uma nova hipótese de suspensão de mandato parlamentar, não prevista na Constituição. Teori foi seguido pelos demais ministros, unanimemente.

Nessa mesma toada de moralização da política, é importante ressaltar a sua decisão na ação direta de inconstitucionalidade sobre financiamento de campanhas eleitorais por pessoas jurídicas.

A morte de Teori interrompe sua trajetória à frente do maior caso de corrupção do país. Os números de seu trabalho na Lava Jato são surpreendentes: analisou mais de uma centena de cautelares, mais de 80 habeas corpus, dezenas de reclamações.

A mais famosa delas talvez seja a contra a decisão do juiz Sergio Moro que retirou o sigilo das transcrições das interceptações telefônicas de conversas entre Dilma, à época presidente, e Lula.

Além de anular o ato de Moro, Teori deu o recado ao Judiciário: investigação só com respeito aos direitos dos réus e investigados. Não há atalhos no Estado de Direito.

Com decisões tão relevantes, foi submetido a duras críticas. Nunca retrucou nem usou os holofotes para desqualificar os interlocutores.

Sua ausência será sentida.

ELOÍSA MACHADO DE ALMEIDA é professora da FGV Direito SP e coordenadora do Supremo em Pauta.

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