Folha de S. Paulo


'Vocês são um lixo', diz zelador do tríplex a advogados de Lula

Chamado a depor na ação contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o antigo zelador do edifício Solaris, em Guarujá, José Afonso Pinheiro, chamou os defensores do petista de "um bando de lixo" nesta sexta (16).

"Posso falar o que vocês são? Vocês são um bando de lixo, lixo. Isso que vocês são. O que vocês estão fazendo com nosso país", afirmou, antes de ser interrompido pelo juiz Sergio Moro.

Pinheiro foi zelador do edifício onde fica o tríplex que seria destinado a Lula pela empreiteira OAS, segundo acusa o Ministério Público.

Ele depôs como testemunha de acusação contra o petista e disse que o ex-presidente visitou o apartamento duas vezes com a ex-primeira-dama Marisa Letícia, que "se portava como a proprietária" do local.

Segundo ele, os engenheiros da OAS o orientavam a não dizer que o apartamento era do ex-presidente. Até mesmo os corretores, segundo Pinheiro, usavam como argumento de venda o fato de que Lula tinha uma unidade no prédio.

CANDIDATO A VEREADOR

O zelador foi candidato a vereador em Santos pelo PP neste ano, com o nome de urna "Afonso zelador do tríplex".

Para os advogados de Lula, porém, isso compromete a isenção da testemunha, que teria interesse nos fatos apurados na ação.

O advogado Cristiano Zanin Martins fez perguntas sobre a carreira política de Pinheiro, como por que resolveu ser candidato e se usava a Lava Jato como tema de campanha.

O zelador negou que falasse do caso e disse que entrou para a política por uma questão de "necessidade".

"Você não sabe o que é uma pessoa estar desempregada, passando por uma situação terrível, porque foi envolvida numa situação em que não tem culpa nenhuma", afirmou, para depois insultar os defensores. Moro o interrompeu e pediu que respondesse as questões de forma mais objetiva e menos emocional.

Os advogados prosseguiram com as perguntas e questionaram se Pinheiro fez referências ao ex-presidente Lula durante a campanha, ou se estava numa coligação de oposição ou de apoio ao PT.

Moro, porém, indeferiu as perguntas dizendo não ver relevância no tema e que a linha de questionamento era "ofensiva". Ao final da audiência, disse lamentar pela perda do emprego de Pinheiro e que algumas perguntas tenham soado ofensivas à testemunha.

Em nota, a defesa de Lula afirmou que o suposto interesse de Pinheiro nos fatos compromete sua narrativa, e que a audiência demonstrou mais uma vez a parcialidade de Moro para julgar o caso.

"A fama que o tríplex conquistou estimulou a nascente carreira política de Pinheiro, evidenciando interesse no desfecho da causa", afirmaram os advogados. "Ao término da audiência, o juiz Moro pediu 'desculpas' ao depoente sob o pretexto de que foi Pinheiro o ofendido, em manifesto descompasso com a realidade."


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