Folha de S. Paulo


Paes tem R$ 327 mil bloqueados em conta pela Justiça

Marcelo Sayão/Efe
BRA70 RIO DE JANEIRO (BRASIL).- 22/11/2015.- Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro (c), ao lado do secretário executivo de Coordenação de Governo, Pedro Paulo Carvalho, que recentemente foi acusasdo de agressão por sua ex mulher (d), Carlos Arthur Nuzman (i), presidente do COB, durante inauguração do campo de Golfe Olímpico na Barra da Tijuca para os Jogos Rio 2016. EFE / Marcelo Sayão ORG XMIT: BRA70
Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, durante inauguração do campo de golfe

O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), teve R$ 327.382,99 bloqueados pela Justiça do Rio na ação por improbidade administrativa contra ele.

Ele é acusado de ter isentado de forma irregular o pagamento de uma taxa ambiental pela construtora do campo de golfe da Olimpíada. O dano aos cofres públicos é calculado em R$ 2,3 milhões.

Documento obtido pela Folha mostra que o valor foi bloqueado em duas contas em nome do prefeito nos bancos Santander e Banco do Brasil, sendo quase a totalidade no primeiro.

O valor apresentado representa uma redução de seu patrimônio em relação a 2012, quando se candidatou à reeleição. Ele havia informado à Justiça Eleitoral ter em suas contas bancárias R$ 330.112,69.

Não é a primeira vez que Paes apresenta queda de patrimônio. A declaração de bens de quatro anos atrás representou uma queda de 15% em relação a 2008, quando se candidatou pela primeira vez à Prefeitura do Rio.

A queda durante o seu primeiro mandato se deu a despeito do prefeito ter lucrado com a venda de imóveis de sua propriedade. Em entrevista à Folha em 2012, ele declarou considerar o salário de R$ 13 mil destinado ao cargo uma "merreca".

A Fiori Empreendimentos, responsável pela construção do campo de golfe, teve R$ 273 mil bloqueados.

A taxa que gerou a ação seria cobrada pela remoção de uma área de 61 mil metros quadrados de vegetação para a construção do campo de golfe. Lei municipal prevê o pagamento do valor para o corte de árvores em terrenos particulares.

A Fiori solicitou a isenção alegando que a taxa não entrou no cálculo do custo do campo destinado aos Jogos. A empresa afirmou que o pagamento do valor geraria desequilíbrio entre o custo da obra e a contrapartida dada pela prefeitura –permissão para a construção de torres mais altas em terrenos vizinho.

Paes aceitou o argumento da empresa e, num despacho de três linhas determinou em 15 de março de 2013 que o município assumisse o pagamento da cobrança. O acordo foi revelado pela Folha em setembro de 2015.

COBRANÇA

Paes afirmou em nota que não isentou a cobrança da taxa, mas que determinou que a empresa quitasse o Darm (Documento de Arrecadação de Receitas Municipais) emitido em fevereiro de 2013. Ele alegou que só haveria reembolso caso a Fiori comprovasse o desequilíbrio entre custo do campo e contrapartida concedida.

"Nada disso aconteceu: nem a taxa foi quitada, nem o desequilíbrio comprovado, nem houve qualquer ressarcimento", diz a nota do prefeito.

A Folha teve acesso aos documentos processo administrativo do licenciamento ambiental produzidos até abril deste ano.

Em julho de 2013, o secretário municipal do Meio Ambiente, Carlos Alberto Muniz, cobrou de Paes o comprovante de pagamento do Darm que deveria ser quitado pelo município, conforme decidido em março daquele ano.

A assessora especial da Casa Civil, Rosemary Teixeira, cobra então da Secretaria Municipal de Urbanismo os estudos sobre o custo do campo de golfe. A pasta informa não ter sido responsável por esta avaliação.

Após o impasse, Muniz comunica à Fiori, em agosto de 2013, o novo procedimento que deve ser adotado: pagamento do Darm pela empresa e reembolso posterior. Uma semana depois, a construtora afirma que a cobrança contraria determinação do prefeito.

Em setembro daquele ano, a empresa decide questionar a Procuradoria-Geral do Município sobre qual será o procedimento de reembolso, condicionando a quitação à explicação. Esta é a última vez que a cobrança é mencionada no processo até abril de 2016.

Documentos enviados pela prefeitura indicam que apenas em novembro de 2016 –mais de três anos depois e a um mês do Ministério Público propor a ação civil pública– a cobrança da taxa voltou a ser tema da cúpula do município.

De acordo com os papéis, o procurador-geral do município, Fernando Dionísio, faz questionamentos sobre a quitação do Darm a Muniz. O secretário do Meio Ambiente encaminha o Darm com valores atualizados e defende que a Fiori seja inscrita na dívida ativa do município.

Dionísio também questiona Muniz em relação à avaliação dos custos do campo de golfe apresentados pela empresa. Ele recomenda que a Secretaria Municipal de Obras seja questionada. Até agora, a única planilha disponível sobre os custos da arena olímpica foi produzida pela própria Fiori.


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