Folha de S. Paulo


Temer usava aliados para fins pessoais, diz delator

Beto Barata - 16.nov.2016/Presidência
Michel Temer discursa durante jantar com senadores da base aliada no Palácio da Alvorada
Michel Temer discursa durante jantar com senadores da base aliada no Palácio da Alvorada

O teor da delação de Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, expõe a atuação do presidente Michel Temer e de seus principais aliados no Planalto, o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco, secretário de Parceria de Investimentos.

Segundo Melo, "o atual presidente da República também utilizava seus prepostos para atingir interesses pessoais, como no caso dos pagamentos que participei, operacionalizado via Eliseu Padilha".

O nome Michel Temer (ou só o sobrenome dele) aparece 43 vezes no relato. Padilha, apelidado de "primo", é mencionado 45 vezes e Moreira Franco, o "angorá", 34.

O ex-ministro Geddel Vieira Lima, o "babel", e que pediu demissão recentemente, surge em 67 trechos.

O líder do governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR), o "caju", apontado como o "homem de frente" das negociações da empreiteira no Congresso, tem 105 menções.

De acordo com Melo, Temer atua de forma "indireta" na arrecadação financeira do PMDB, mas teve papel "relevante" em 2014, quando, segundo ele, pediu R$ 10 milhões a Marcelo Odebrecht para a campanha eleitoral durante jantar no Palácio do Jaburu, em maio daquele ano.

Segundo o delator, o presidente incumbiu Padilha de operacionalizar pagamentos de campanha.

O ministro, diz Melo, cuidou da distribuição de R$ 4 milhões daqueles R$ 10 milhões: "Foi ele o representante escolhido por Michel Temer –fato que demonstrava a confiança entre os dois–, que recebeu e endereçou os pagamentos realizados a pretexto de campanha solicitados por Michel Temer".

"Este fato deixa claro seu peso político, principalmente quando observado pela ótica do valor do pagamento realizado, na ordem de R$ 4 milhões", completou o delator.

O ex-executivo da Odebrecht contou detalhes sobre o jantar realizado no Palácio do Jaburu em 2014.

"Após a chegada de Michel Temer, sentamos na varanda em cadeiras de couro preto, com estrutura de alumínio. No jantar, acredito que considerando a importância do PMDB e a condição de possuir o vice-presidente da República como presidente do referido partido político, Marcelo Odebrecht definiu que seria feito pagamento no valor de R$ 10 milhões", diz.

Para Melo, "claramente, o local escolhido para a reunião foi uma opção simbólica voltada a dar mais peso ao pedido de repasse financeiro que foi feito naquela ocasião".

O ex-executivo da empreiteira ressalta na delação que "inclusive, houve troca de e-mails nos quais Marcelo se referiu à ajuda definida no jantar, fazendo referência a Temer como 'MT'".

Na mensagem, de 9 de outubro de 2014, Marcelo diz que "depois de muito choro não tive como não ajudar na seguinte linha". Ele então menciona um pagamento para fevereiro de 2015, portanto, depois da eleição.

Um dos endereços de entrega foi o escritório de advocacia de José Yunes, amigo e atual assessor especial da Presidência da República.

QUATRO CACIQUES

O delator diz que foi apresentado a Temer por Geddel em agosto de 2005 na festa de aniversário de seu pai.

Ao se referir a Padilha, o delator diz que o ministro "atua como verdadeiro preposto de Michel Temer e deixa claro que muitas vezes fala em seu nome". "Eliseu Padilha concentra as arrecadações financeiras desse núcleo político do PMDB para posteriores repasses internos."

A relação entre os quatro caciques peemedebistas é muito forte, segundo o delator, "o que confere peso aos pedidos formulados por eles (ministros), pois se sabe que o pleito solicitado em contrapartida (pela empresa) será atendido também por Temer".

Melo diz que "Geddel Vieira Lima também possui influência dentro do grupo, interagindo com agentes privados para atender seus pleitos em troca de pagamentos".


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