Folha de S. Paulo


Sem comando, Ribeirão Preto vive caos

Joel Silva - 2.dez.2016/Folhapress
A prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy Vera(PSD), deixa a sede da PF em Ribeirão após ser presa
A prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy Vera(PSD), deixa a sede da PF em Ribeirão após ser presa

Outrora símbolo do desenvolvimento econômico no interior paulista, Ribeirão Preto já foi conhecida como capital do café, da cultura e do agronegócio.

Mas, nos últimos três meses, se destacou por um escândalo de corrupção que levou a prefeita à prisão, suspendeu mandatos na Câmara e deixou a cidade esfacelada no fim do mandato.

Serviços essenciais, como saúde e limpeza urbana, estão prejudicados.

A cidade vive a pior epidemia de dengue da sua história, com 35 mil casos, e obras estão atrasadas em muitos bairros. Uma UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) que deveria ter sido inaugurada há um ano está longe de começar a funcionar.

O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público paulista, afirma que fraudes em licitação na prefeitura somam R$ 203 milhões, mas o montante pode ser muito superior.

Só o pagamento de honorários advocatícios considerados irregulares –e que levou a prefeita Dárcy Vera (PSD) à prisão– lesou os cofres públicos em R$ 45 milhões, segundo a investigação.

"Há gente morrendo com atendimento ruim, mortes no trânsito. Tudo é reflexo do que se deixa de fazer. Muitos contratos já nasceram ilícitos", afirma o promotor Leonardo Romanelli, que coordena a operação sobre o caso, chamada Sevandija.

Hospitais filantrópicos têm valores a receber da prefeitura, assim como os servidores, que viram o 13º atrasar, e a Estre, que faz a coleta de lixo.

A Operação Sevandija iniciou as investigações com uma licitação de R$ 26 milhões, em 2015, para a compra de catracas escolares. As empresas envolvidas eram do mesmo grupo ou representadas pela mesma pessoa.

"Encontramos escolas sem nenhuma catraca e escola em que a catraca foi entregue agora em outubro, depois da operação", disse Romanelli.

As dívidas de curto prazo da prefeitura são de R$ 400 milhões, mas, somadas a outros débitos, podem chegar a R$ 2,4 bilhões, para um Orçamento previsto de R$ 2,9 bilhões para 2017.

"A cidade virou uma terra de ninguém, pois não tem quem manda. É o pior dos mundos", disse Jorge Sanchez, conselheiro da Amarribo Brasil, organização que acompanha gastos públicos.

Após a prisão da prefeita, no último dia 2, o vice, Marinho Sampaio (PMDB), renunciou. A Sevandija havia detido anteriormente secretários de Dárcy, suspendeu mandatos de nove vereadores e levou empresários à prisão. Todos os detidos na primeira fase foram soltos.

Na última quinta (8), o secretário do Governo, Marcus Berzoti, se reuniu com a presidente da Câmara Municipal, Gláucia Berenice (PSDB), e o setor jurídico para tentar definir quem administrará a cidade até o dia 31.

Gláucia, que já tinha sido informada pelo Tribunal de Justiça de que teria de assumir, vai procurar novamente o TJ para explicar a situação da Câmara com os vereadores afastados. Ela alega ocupar interinamente o cargo, já que o presidente da Casa, Walter Gomes (PTB), foi um dos afastados.

Berzoti afirmou que a situação econômica é muito grave e que a prefeitura não tem recursos para nada. "Todos os problemas que a cidade vive hoje são fruto da questão econômico-financeira. Qualquer coisa que se faça precisa de dinheiro. E não há", disse.

Ele é o responsável por governar a cidade, mas sem poder para assinar documentos ou enviar projetos à Câmara.

A defesa de Dárcy nega as acusações. O prefeito eleito, Duarte Nogueira (PSDB), disse que, para tornar a prefeitura administrável, vai cortar gastos, enxugar cargos e reduzir secretarias.


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