Folha de S. Paulo


Benefício para Doria deu prejuízo à Oi, afirmam investidores

Kiko Ferrite/Folhapress
Praia de Trancoso, que era um reduto pouco explorado pelo turismo no passado
Praia de Trancoso, onde o prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), tem imóvel

A Associação dos Investidores Minoritários (Aidmin), que representa acionistas da Oi, considerou o atendimento preferencial dado pela tele ao prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), uma decisão "discriminatória" e "lesiva à empresa".

Como revelou a Folha nesta quinta (8), em 2012, Doria pediu a seu amigo e executivo de operações da Oi, James Meaney, que acelerasse a instalação de telefone e internet no condomínio Itapororoca, em Trancoso, no litoral sul da Bahia, onde o tucano e outros empresários têm casa.

"É mais um ato que deveria ser investigado, porque mostra como a Oi vem sendo assaltada desde sempre", disse Aurélio Valporto, presidente da associação.

Para ele, a empresa investiu só para agradar o hoje prefeito eleito e o grupo de celebridades que têm casas em um condomínio de veraneio.

"Isso não vai gerar receita para a empresa. É prejuízo para o acionista," disse.

A troca de mensagens entre os executivos da Oi e Doria foi anexada pela própria operadora na investigação do Ministério Público Federal que apura o suposto favorecimento da tele ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na instalação de uma antena de celular próxima ao sítio de Atibaia (SP) frequentado pelo petista e sua família.

Nas mensagens, Doria afirma que o condomínio não poderia ficar sem sinal em um momento em que estaria cheio. O prefeito eleito mencionou na ocasião Ivan Zurita (ex-presidente da Nestlé) e Nizan Guanaes (dono da agência África), entre outros.

Em 15 dias, a Oi decidiu atender o pedido que, em situações convencionais levaria entre três e seis meses. Para isso, foram investidos R$ 455 mil na instalação que atenderia o condomínio.

Em resposta à reportagem, a empresa afirmou que houve análise de "viabilidade econômica" do pedido.

Para Valporto, dificilmente há viabilidade em um local frequentado só nas férias.

O presidente da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), Juarez Quadros, disse que o caso expõe uma questão de isonomia, mas não há nada de errado do ponto de vista da regulação. "As empresas têm liberdade para atender o cliente como achar conveniente."

Para Quadros, a Oi é uma empresa privada, a internet é um serviço privado e não cabe à agência comentários.


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