Folha de S. Paulo


Reparos na piscina não integraram reforma do Alvorada, diz engenheiro

Lula Marques - 22.out.2002/Folhapress
Vista da piscina do Palácio da Alvorada, em Brasília
Vista da piscina do Palácio da Alvorada, em Brasília

Responsável pela coordenação da reforma do Palácio da Alvorada durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o engenheiro Ralph Lima Terra afirmou à Folha que os reparos feitos pela Odebrecht na piscina da residência oficial, em 2008, não fizeram parte do escopo da restauração finalizada três anos antes, como afirmam petistas.

Vice-presidente executivo da Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base), Terra disse que a "troca de pedras da piscina não fazia parte da reforma oficial. O escopo foi identificado, realizado e assumimos compromisso, tudo entregue até o fim de 2005".

Em 2004, um consórcio de 22 empresas, Odebrecht entre elas, custeou a reforma do Alvorada no valor de R$ 18,4 milhões à época.

A obra foi realizada pelas empreiteiras que, juntas, formaram a Apra (Associação para a Restauração do Palácio da Alvorada), composta pela Abdib e pela Fundação Ricardo Franco, que fiscalizou o trabalho.

Documento enviado à reportagem pela Abdid aponta que a restauração durou até o fim de 2005 e compreendeu "ações em todos os pavimentos e localidades do Palácio da Alvorada", incluindo "vedação e restauração de esquadrias, modernização do sistema de climatização, dos elevadores e monta-carga".

"Foram também realizadas ações de adequação das instalações de infraestrutura do palácio, como instalações elétricas, hidráulicas e sanitárias, bem como iluminação interna e externa", completa.

Dois anos após a conclusão da reforma oficial, a Odebrecht custeou, sem contrato, a colocação de piso de granito na piscina, o que chamou atenção da Polícia Federal, como revelou a Folha no dia 13 de novembro.

Os investigadores da Operação Lava Jato levantaram suspeitas após análises de e-mails trocados em 2008 pelo então presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, com outros executivos envolvidos no esquema de desvios de recursos da Petrobras.

Nas mensagens, Marcelo, hoje preso em Curitiba, fala sobre a obra em uma piscina em Brasília, menciona o "amigo" –apelido de Lula na empreiteira, segundo a PF– e mostra preocupação com a possível divulgação de informações sobre a reforma.

Relatórios da Presidência da República aos quais a reportagem teve acesso confirmam a reforma em 2008 e, diferentemente de outras intervenções, não registram informações sobre a empresa que fez o reparo, custo ou existência de contratos.

PARTE DA REFORMA

O ex-chefe de gabinete de Lula Gilberto Carvalho disse, em novembro, que a obra na piscina fazia parte da reforma realizada pelo consórcio e foi feita só dois anos depois porque "não poderia ser qualquer pedra a ser colocada ali".

Ele afirmou que a Odebrecht "se comprometeu diante do consórcio [de 2004] a realizar a obra".

O petista disse também que não há contrato nesse caso porque não foi uma "obra comprada", ou seja, sem custo para os cofres públicos.

Para ele, a investigação é um ato de "desespero" e que, ao não conseguir reunir provas contra Lula, a PF "faz todo o tipo de acusação sem o mínimo de cuidados de verificar os fatos".

O executivo da Abdib, porém, contraria Carvalho e diz que a obra na piscina "não tem nada a ver com o processo de restauração do Alvorada". "O que aconteceu depois da entrega oficial da restauração, em 2005, a gente não acompanhou", disse.

O Instituto Lula não comentou o caso. Procurado novamente após as declarações de Terra, Gilberto Carvalho não se pronunciou.


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