Folha de S. Paulo


Governo aponta irregularidades em 1,1 milhão de benefícios do Bolsa Família

Clemilson Campos-19.mai.13/JC Imagem/Folhapress
Beneficiários do Bolsa Família se concentram em frente de agência bancária após boato sobre saque
Multidão se concentra na frente de agência bancária após boato sobre fim do Bolsa Família

Um pente-fino feito pelo governo nos cadastros do Bolsa Família apontou irregularidades em 1,1 milhão dos 13,9 milhões de benefícios pagos no programa –o equivalente a 8% do total.

Destes, 469 mil foram cancelados e 654 mil bloqueados após o balanço apontar que o beneficiário tinha renda superior à exigida para participar, carro-chefe da área assistencial do governo.

Para realizar o balanço, o Ministério de Desenvolvimento Social e Agrário afirma ter cruzado, desde junho, informações de seis bancos de dados diferentes, como a Rais (Relação Anual de Informações Sociais), o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) e o INSS.

Somados, bloqueios e cancelamentos correspondem a cerca de R$ 2,4 bilhões ao ano, informou o ministério nesta segunda-feira (7).

Parte dos bloqueios e cancelamentos ainda pode ser revista. Para isso, beneficiários devem apresentar documentos que comprovem renda dentro do exigido, que é de no máximo R$ 170 per capita.

Os bloqueios duram até três meses. Se após esse período não houver comprovação do enquadramento nas regras o benefício é cancelado –medida que já ocorreu para aqueles que, no levantamento, apresentaram renda acima de R$ 440 per capita, ou seja, quase três vezes o valor máximo exigido.

Com a possibilidade de revisão, a expectativa do governo é que ao menos R$ 1 bilhão em benefícios do Bolsa Família seja cancelado após a verificação. O governo também anunciou que irá convocar 1,4 milhão de famílias para regularizarem os cadastros no programa. Neste intervalo, todas continuarão a receber os benefícios.

Entre as cidades com maior número de cancelamentos, estão São Paulo, com 28.644, e Rio, com 11.887. Proporcionalmente, destacam-se Treviso (SC), que teve 26% de benefícios bloqueados e Picada Café (RS), com 23%.

ELEIÇÕES

Além dos casos em que o governo detectou renda superior à exigida, também foram bloqueados benefícios de 13 mil famílias identificadas pelo Tribunal Superior Eleitoral como doadores na prestação de contas de candidatos nas últimas eleições. "São pessoas que podem ter tido o CPF usado", disse o ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra.

Segundo ele, a partir de agora, balanço semelhante ao que levou ao bloqueio e cancelamento de alguns benefícios deve ser realizado todos os meses. "Não queremos que esse programa seja contaminado pelo uso inadequado do dinheiro público", disse.

A pasta também anunciou que trabalha em um acordo de cooperação técnica com o Ministério Público Federal, TSE, Polícia Federal e outros órgãos para ampliar a investigação diante de possíveis casos em que for detectado "padrão" de desvios.

Questionado se as medidas de bloqueio e cancelamento representam redução no Bolsa Família, o ministro negou e afirmou que os valores cancelados devem ser reaplicados no programa para novos beneficiários. Terra também citou o reajuste concedido neste ano, de 12,5%.

O ministro disse ainda que o governo deve lançar ainda neste mês programa de inclusão produtiva para os beneficiários. A ideia é estimular as famílias a terem renda própria no mercado formal de trabalho. "Quem tiver carteira assinada vai continuar podendo receber Bolsa Família por um período. A partir do momento em que parar de receber, o cartão fica hibernando, e pode ser reativado se perder o emprego", disse.


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