Folha de S. Paulo


BNDES suspende verba para projetos de firmas investigadas

Rafael Andrade/Folhapress
RIO DE JANEIRO, RJ, 30.01.2009: PRÉDIO-BANCO - Prédio do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) na avenida Chile, no centro do Rio de Janeiro. (Foto: Rafael Andrade/Folhapress)
Prédio do BNDES na avenida Chile, no centro do Rio de Janeiro

O BNDES suspendeu temporariamente os desembolsos de recursos para 25 projetos de exportação de serviços de empresas investigadas pela Operação Lava Jato.

A suspensão trava a liberação de US$ 4,7 bilhões para os projetos, que incluem obras em nove países. Na lista, estão o aeroporto de Havana (Cuba) e linhas do metrô de Caracas (Venezuela).

A decisão foi tomada em maio, em resposta a ação da AGU contra as empresas, mas divulgada apenas nesta terça-feira (11), em entrevista para detalhar a nova política do banco para financiar a exportação de serviços.

Os projetos que tiveram os desembolsos suspensos somam US$ 7 bilhões, dos quais US$ 2,3 bilhões já foram desembolsados.

São projetos de exportação de serviços de engenharia contratados por Argentina, Cuba, Venezuela, Guatemala, Honduras, República Dominicana, Angola, Moçambique e Gana às empreiteiras Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez.

O diretor do banco para a área de exportações, Ricardo Ramos, explicou que não houve qualquer desembolso a esses projetos desde maio.

Segundo ele, o BNDES consultou a AGU sobre a possibilidade de manutenção dos contratos, mas foi aconselhado a reavaliar os projetos.

A análise vai considerar o avanço físico da obra, a existência de outras fontes de financiamento e a exposição do banco ao risco.

Além disso, as empresas terão que assinar um termo de compliance (governança), garantindo que os projetos seguem as leis, sob o risco de multas ou de resgate antecipado da dívida em caso de irregularidades. Os termos já vêm sendo discutidos com as empreiteiras e os países que tomaram os empréstimos, informou o BNDES.

RESPOSTA

Nesses casos de exportação de serviços, o empréstimo do BNDES é dado a países que contratam empresas brasileiras e cobre o valor das exportações de equipamentos para as obras.

"É uma política mais seletiva", disse Ramos, classificando a mudança na política de financiamento às exportações de serviços como uma "resposta à sociedade".

De acordo com ele, o banco passará a avaliar e monitorar os impactos dos projetos no exterior, além de acompanhar as obras de perto.

Até agora, a análise de cada projeto focava no potencial de geração de divisas com a exportação de bens nacionais para as obras no exterior.

O objetivo é ter avaliação mais ampla do projeto, para analisar sua viabilidade e os riscos. As mudanças seguem recomendações do Tribunal de Contas da União (TCU), que pediu ao banco análise da economicidade dos projetos e monitoramento da efetividade do retorno ao Brasil.

"É importante definir indicadores que possam dar resposta à sociedade sobre quais benefícios esses projetos têm", disse Ramos.

Atualmente, a carteira de financiamento à exportação de serviços do banco tem 47 projetos no valor total de US$ 13,5 bilhões. Deste total, 22 ainda não tiveram contrato assinado e serão analisados sob as novas regras.

O segmento é alvo de investigações do Ministério Público Federal. A Polícia Federal denunciou o ex-presidente Lula e o empreiteiro Marcelo Odebrecht sob acusação de desvios em contratos da Odebrecht com o BNDES para obras em Angola.

O diretor do banco disse que auditoria interna não detectou irregularidades na concessão de financiamentos de exportação de serviços.


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