Folha de S. Paulo


Braskem vai negociar delação premiada nos EUA e no Brasil

Rodolfo Buhrer/Reuters
Antonio Palocci (front), former finance minister and presidential chief of staff in recent Workers Party (PT) governments, is escorted by federal police officers as he leaves the Institute of Forensic Science in Curitiba, Brazil, September 26, 2016. REUTERS/Rodolfo Buhrer ORG XMIT: BRA103
O ex-ministro Antonio Palocci, preso na segunda-feira (26) em nova fase da Lava Jato

A Braskem, indústria petroquímica que tem 38% de seu capital controlado pela Odebrecht, anunciou nesta segunda (3) que começou a negociar acordos nos EUA e no Brasil para encerrar processos em que é acusada de ter pago propina a políticos e executivos da Petrobras.

A empresa busca um acordo nos EUA porque negocia ações na Bolsa de Nova York e pode levar multas bilionárias se ficar provado que lesou investidores de lá.

A Braskem é alvo de ações de investidores americanos, sob acusação de ter inflado o preço de suas ações e ter pago propina para fechar contratos na Petrobras.

Um dos nomes que a empresa deve citar como beneficiário de suborno é o do ex-ministro Antonio Palocci. Preso pela Operação Lava Jato no último dia 26, Palocci é acusado de ter intermediado propinas da Odebrecht para o PT no valor de R$ 128 milhões, o que a sua defesa nega.

Relatório da Polícia Federal levanta a suspeita de que a Braskem fez pagamentos ilícitos ao marqueteiro João Santana, que cuidou das campanhas de Lula em 2006 e de Dilma Rousseff em 2010 e 2014. A suspeita em torno de Santana se baseia em registros encontrados no que a força-tarefa da Lava Jato chama de "departamento de propina" da Odebrecht.

Um dos arquivos que haviam sido apagados e foram recuperados pela PF cita entregas de dinheiro vivo em dois endereços de uma agência de publicidade em São Paulo. Os valores estavam registrado na conta do "Italiano", codinome de Palocci na Odebrecht, segundo a PF.

Havia a informação de que o pagamento fora ordenado por Marcelo Odebrecht para Santana e sua mulher, Mônica Moura, de acordo com a PF. A Braskem aparecia como BRK e BK. Uma mensagem recuperada dizia: "BRASKEM Pagou 500 (30/07) + 500 (../8)".

A empresa também foi citada como pagadora de suborno por dois delatores da Lava Jato: o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef. Segundo Costa, a Braskem acertou o pagamento anual de US$ 5 milhões com o PP (Partido Progressista), que o indicara para o cargo de diretor, para comprar nafta por um valor mais baixo, causando um prejuízo de R$ 6 bilhões à Petrobras, de acordo com procuradores.

Os comunicados sobre os acordos foram feitos ao Departamento de Justiça dos EUA, à SEC, órgão americano que regula o mercado de capitais, e à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que exerce essa função no Brasil.

Maior petroquímica da América Latina, a Braskem faturou R$ 53 bilhões em 2015 e tem unidades no Brasil, nos EUA, México e Alemanha.

OUTRO LADO

A Braskem não quis comentar as acusações contra a empresa e disse o seguinte em nota: "A Braskem está dando um passo importante no caminho para a resolução dessa questão".

O advogado de Antonio Palocci, José Roberto Batochio, rebate que seu cliente seja o "Italiano" e nega que ele tenha intermediado propina para o PT. "Há várias mensagens do Marcelo Odebrecht em que ele fala em 'Italiano' e em Palocci na mesma mensagem. Como ele trataria o Palocci como se fossem duas pessoas? É surreal."

A Folha não conseguiu localizar a defesa do ex-marqueteiro de campanhas petistas João Santana.


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