Folha de S. Paulo


PF se opõe a novas delações premiadas na Lava Jato

Rodrigo Félix Leal/Futura Press/Folhapress
Filipe Pace, delegado da Polícia Federal, durante coletiva na sede da instituição, em Curitiba (PR),
Filipe Pace, delegado da Polícia Federal, durante coletiva na sede da instituição, em Curitiba (PR),

A Polícia Federal tem defendido nos bastidores que não se faça mais nenhum acordo de delação premiada nas investigações da Operação Lava Jato.

Na avaliação de integrantes da PF no Paraná, já foi recolhido material suficiente ao longo dos dois anos e sete meses em que a operação está em curso para que apurações próprias sobre o esquema de desvios na Petrobras sejam feitas, sem precisar de ajuda de delatores.

Para a polícia, um exemplo é a operação de semana passada que prendeu o ex-ministro petista Antonio Palocci, que chefiou a Fazenda no governo Lula e a Casa Civil sob Dilma Rousseff.

A ação investiga o elo de Palocci com a empreiteira Odebrecht, que está na reta final na negociação de acordos de delação premiada e leniência com os procuradores ligados à Lava Jato.

Com a análise de planilhas da empreiteira apreendidas em fases anteriores combinada a delações já firmadas, o delegado Felipe Pace, da PF, concluiu que Palocci é o citado "italiano" que aparece nas citações da Odebrecht. O petista, que cumpre prisão preventiva decretada pelo juiz Sergio Moro, nega.

A mesma informação consta nos anexos da pré-delação de Marcelo Odebrecht, ex-presidente e herdeiro da empreiteira, em negociação com a PGR (Procuradoria-Geral da República). Ele está preso desde o ano passado.

Além disso, membros da PF destacam que a sensação de impunidade perante a sociedade irá aumentar caso mais colaborações sejam fechadas com a Justiça.

Desde que a primeira fase da Lava Jato foi deflagrada, em março de 2014, foram celebrados 66 acordos de delação premiada e quatro de leniência (com as empreiteiras Toyo-Setal, UTC, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez).

Se a Odebrecht tiver êxito na negociação, esse número pode superar a casa da centena, já que a empreiteira negocia a delação de mais de 50 funcionários do grupo.

Para a polícia, outro elemento que dificulta a celebração de novas delações é que presos da Lava Jato começarão a ser soltos, como é o caso do doleiro Alberto Yousseff, um dos principais personagens do esquema. Ele vai para o regime aberto em novembro, após dois anos e quatro meses de cadeia.

Moro também compartilha da mesma preocupação em relação a novas delações.

Segundo a Folha apurou, ele vem sinalizando a investigadores da Lava Jato que nenhum preso será liberado automaticamente se sua delação for homologada.

Em conversas reservadas, pessoas ligadas a Odebrecht afirmam que a posição da PF contra delação premiada teria relação com algum movimento do governo de Michel Temer, já que integrantes da cúpula do PMDB, incluindo o presidente, são mencionados no acordo com a empreiteira. A PF, porém, nega qualquer diálogo ou influência do governo.

ALIJADA

A opinião da PF sobre o tema acirra a divergência da instituição com a Procuradoria-Geral da República.

A relação entre os dois lados, que nunca foi de proximidade, tornou-se mais distante após a assinatura da delação premiada do ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró em novembro do ano passado.

A polícia no Paraná soube pela imprensa, por exemplo, que o ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) havia sido preso, naquele mesmo mês, por propor um plano de fuga para Cerveró.

Em abril, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) a proibição de a Polícia Federal negociar acordos de delação premiada sem a participação do Ministério Público, aumentando a tensão entre os dois lados da investigação.

Na Lava Jato, a PF firmou diretamente com a doleira Nelma Kodama, ex-auxiliar de Alberto Youssef, um acordo de delação premiada.

A colaboração ainda não foi homologada pelo juiz Sergio Moro, e a força tarefa firmou um novo acordo com a doleira, que ainda está em andamento.


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