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Moraes terá que explicar declaração sobre PF para Comissão de Ética

Pedro Ladeira/Folhapress
O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, durante entrevista em Brasília
O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, durante entrevista em Brasília

Depois de ser confirmado no cargo nesta terça-feira (27) pelo presidente Michel Temer, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, foi cobrado a dar explicações num prazo de dez dias à Comissão de Ética da Presidência sobre suas declarações no domingo (25), quando disse que "nesta semana" haveria uma nova operação da Lava Jato.

O presidente da comissão, Mauro Menezes, disse que o episódio já seria discutido, mas que decidiu pedir explicações oficiais após uma denúncia ser protocolada no órgão pelo deputado Afonso Florence (PT-BA).

Segundo Menezes, se ficar comprovado que Moraes fez uso de informação privilegiada do governo, a comissão poderá aplicar uma sanção, que vai de uma advertência até uma recomendação ao presidente que o demita. Além disso, o ministro pode ser processado –o vazamento de informações privilegiadas é crime.

A decisão da Comissão de Ética foi tomada nesta terça, no mesmo dia em que o ministro se reuniu com o presidente para tratar do assunto. Na reunião, Temer repreendeu pessoalmente Moraes pelas declarações dadas em Ribeirão Preto (SP), repetindo as reclamações já feitas no dia anterior por telefone.

O presidente alertou seu ministro que não quer a repetição deste tipo de comportamento, porque gera desgaste para o Palácio do Planalto.

Assessores classificaram a fala de Moraes de "desastrosa" e avaliaram como um erro de estratégia o fato de sua equipe ter divulgado o vídeo do episódio. O material confirma as declarações.

"Pode ficar sossegado, apoio total à Lava Jato. Tanto que quinta teve uma [operação], sexta outra e esta semana vai ter mais. Podem ficar tranquilos. Vocês vão ver. Quando vocês virem esta semana, vão se lembrar de mim", disse o ministro.

Depois da reunião, Alexandre de Moraes disse a interlocutores que estava tudo resolvido entre ele e o presidente.

Assessores de Temer chegaram a defender a demissão do titular da pasta da Justiça, mas o peemedebista avaliou que isto iria criar uma crise pior ainda para o Palácio do Planalto e seria uma admissão oficial de que houve vazamento de uma nova fase da Operação Lava Jato.

Alexandre de Moraes foi acusado por petistas de usar politicamente uma informação –a de que haveria operação da Lava Jato nesta semana– depois que o ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda e Casa Civil), dos governos Lula e Dilma, foi preso nesta segunda-feira (26) pela PF. Moraes nega informação privilegiada sobre a operação.

NA MARCA DO PÊNALTI

Temer disse a assessores que ter o mesmo tipo de conversa que teve com Moraes com os demais ministros de sua equipe que têm dado declarações que provocam desgaste em seu governo. Na lista estão Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), Ricardo Barros (Saúde) e Ronaldo Nogueira (Trabalho).

Segundo assessores, alguns destes ministros estão na "marca do pênalti". Se voltarem a gerar desgaste ao Palácio do Planalto, com posições polêmicas e declarações desastrosas, correm risco de demissão.


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