Folha de S. Paulo


Operação gera mal-estar para acordo de delação com Odebrecht

Zanone Fraissat - 22.fev.2016/Folhapress
Polícia Federal faz busca na Odebrecht em ação da Operação Lava Jato, em fevereiro
Polícia Federal faz busca na Odebrecht em ação da Operação Lava Jato, em fevereiro

Deflagrada nesta segunda (26), a 35ª fase da Lava Jato, que foi capitaneada pela Polícia Federal, criou um mal-estar entre a Odebrecht e os procuradores da República que participam da operação.

Eles negociam com a empreiteira acordos de delação e leniência (espécie de delação premiada da pessoa jurídica) há cerca de sete meses.

Em fase final de conversas, agora focadas no acerto de multas e penas e com o conteúdo já definido sobre o que os executivos vão revelar, a empreiteira foi surpreendida ao ser o foco de novas acusações juntamente com o ex-ministro Antonio Palocci.

Segundo a Folha apurou, esta fase compromete o ambiente colaborativo entre Odebrecht e procuradores, que chegaram a dar explicações ao grupo sobre o ocorrido. A empresa, porém, não pretende desistir do acordo, visto como sua única alternativa de sobrevivência.

Apesar de não ter sido alvo de buscas, o fato de todas as ações da 35ª fase se concentraram na relação de investigados com a empreiteira a incomodou devido ao transtorno causado junto ao mercado num momento em que a empresa negocia parte de seus ativos para se recompor.

A última fase decorreu de uma investigação da PF a partir de documentos apreendidos em ações anteriores e delações premiadas homologadas, como a da ex-secretária Maria Lúcia Tavares.

As apurações aconteceram paralelamente à negociação da delação, já que a PGR (Procuradoria-Geral de República) proibiu a PF de participar das tratativas com o argumento de evitar vazamentos.

Segundo a Folha apurou, parte do Ministério Público Federal viu a ação como resposta da PF a esse fato. Porém os policiais negam qualquer tipo de reação e dizem desconhecer mal-estar com a Odebrecht, já que não estão a par da negociação.

A polícia tentou ouvir Marcelo Odebrecht durante a investigação, mas o executivo não quis falar devido à negociação da delação. Os investigadores, então, preferiram deflagrar a operação a esperar o resultado da delação.

A PF considera também que a demora na negociação com a Odebrecht pode levar à destruição de provas. Tal risco foi mencionado pelo delegado Filipe Pace no pedido de prisão de Palocci.

"É fato público e notório de que o grupo Odebrecht está em negociação para celebração de acordo de colaboração premiada com a PGR, circunstância que, por si só, deixa em estado de alerta todos os criminosos que se envolveram com o grupo empresarial e poderá ensejar prejuízo a futuras investigações e instruções", escreveu.


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