Após polêmica envolvendo uma fala do ministro Alexandre de Moraes, neste domingo (25), sobre uma etapa da Operação Lava Jato que seria realizada nesta semana, o Ministério da Justiça resolveu divulgar, nesta segunda (26), o vídeo do momento em que o ministro dá a declaração.
As imagens foram feitas em Ribeirão Preto (SP) em um evento de campanha do candidato a prefeito Duarte Nogueira (PSDB), do mesmo partido de Moraes.
No vídeo, o ministro aparece entre ativistas de grupos anticorrupção e pró-impeachment e diz a eles que a Lava Jato tem apoio do governo Michel Temer.
"Teve [operação] a semana passada e esta semana vai ter mais, podem ficar tranquilos. Quando vocês virem esta semana, vão se lembrar de mim", diz Moraes, em meio a risos.
Na última quinta (22), a Polícia Federal, subordinada ao ministro, prendeu temporariamente o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.
Nesta segunda (26), a PF prendeu o ex-ministro petista Antonio Palocci, chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff de janeiro a junho de 2011.
É incomum que ministros saibam com antecedência de operações realizadas pela PF. Moraes disse que só soube da prisão de Palocci por volta das 6h15 desta segunda-feira, quando a operação já estava em curso, e que a declaração de que haveria operação nesta semana foi dada de forma "genérica".
Líder do grupo de gestores do Movimento Brasil Limpo em Ribeirão Preto, Marcos Spinola disse que os integrantes do movimento foram até Moraes para questioná-lo sobre o andamento da operação Lava Jato.
"Fomos a ele perguntar sobre o cerceamento das apurações da Lava Jato. Fomos cobrar dele autonomia para [a operação] apurar. Ele disse que havia acontecido operação semana passada e que iria acontecer na próxima e depois", afirmou Spinola.
Segundo ele, o movimento é "das ruas" e, no ato com o ministro, havia cerca de 30 pessoas, inclusive de outros grupos.
O encontro, realizado no Mercadão da Cidade, em zona nobre de Ribeirão, contou com a presença do candidato à prefeitura pelo PSDB, Duarte Nogueira, vereadores e filiados ao partido.
Spinola foi secretário do Planejamento e Gestão Pública no governo do tucano Welson Gasparini (2005-08). O Brasil Limpo tem oito gestores e se reúne no escritório de Spinola, no centro de Ribeirão.
DILMA COMENTA
Em seu perfil no Facebook, a ex-presidente Dilma escreveu que o episódio lança suspeitas de uso político da Operação Lava Jato.
"O anúncio de nova fase da Lava Jato pelo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, num palanque eleitoral, em plena atividade de campanha em Ribeirão Preto, na véspera da prisão de Antônio Palocci, lança suspeitas de abuso de autoridade e uso político da Polícia Federal", disse.
"Se tal situação tivesse ocorrido em meu governo, seríamos duramente criticados pela imprensa e pela oposição. Estamos caminhando para o Estado de Exceção", completou a petista.